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Vol. 31. Núm. 2.
Páginas 167-169 (fevereiro 2012)
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19862
Vol. 31. Núm. 2.
Páginas 167-169 (fevereiro 2012)
Caso clínico
Open Access
Enfarte agudo do miocárdio após a toma de zolmitriptano
Myocardial infarction after taking zolmitriptan
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19862
Hélder Ribeiroa,
Autor para correspondência
hjmribeiro@gmail.com

Autor para correspondência.
, Ana Batistaa, Catarina Ferreiraa, Renato Margatoa, Sofia Carvalhoa, Alberto Ferreiraa, Pedro Mateusa, Fernanda Linharesb, Ilídio Moreiraa
a Serviço de Cardiologia, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Unidade de Vila Real, Vila Real, Portugal
b Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Unidade de Chaves, Chaves, Portugal
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Resumo

O zolmitriptano é um fármaco usado no tratamento agudo da enxaqueca, que, pelo potencial de induzir vasoespasmo, não deve ser utilizado em indivíduos com risco cardiovascular elevado, doença cardíaca isquémica (DCI) e ou história de vasoespasmo coronário. Relatamos o caso raro de um enfarte agudo do miocárdio (EAM) precipitado pela toma de zolmitriptano.

Palavras-chave:
Enfarte agudo do miocárdio
Vasoespasmo coronário
Zolmitriptano
Abstract

Zolmitriptan is a drug used in the acute treatment of migraine, which should not be used in high cardiovascular risk individuals because of its potential to induce vasospasm. We report a rare case of myocardial infarction precipitated by taking zolmitriptan.

Keywords:
Acute myocardial infarction
Coronary vasospasm
Zolmitriptan
Texto Completo
Caso clínico

Apresentamos o caso de um homem de 73 anos que apresentava como fatores de risco vascular (FRV) hipertensão arterial e dislipidemia não medicadas e antecedentes de AVC há 14 anos com sequelas minor. Recorreu ao serviço de urgência (SU) por cefaleias, tendo sido medicado para o domicílio com ácido acetilsalicílico e zolmitriptano. Trinta minutos após a toma dos fármacos, foi acometido por dor retroesternal opressiva persistente. Recorreu novamente ao SU ainda sintomático onde realizou ECG que mostrou ritmo sinusal, esboço de ondas Q associado a supradesnivelamento do segmento ST de V1-V6 e infradesnivelamento do segmento ST em DII, DIII e aVF (Figura 1).

Transferido para este hospital por síndrome coronária aguda (SCA) com elevação do segmento ST da parede anterior extenso com 4 horas de evolução para angioplastia direta. A coronariografia mostrou doença coronária de três vasos associando: estenoses suboclusivas do segmento proximal (lesão culprit) e distal da descendente anterior (DA), estenose crítica do segmento médio da DA, estenoses significativas da coronária direita (CD) e da circunflexa (Cx). Submetido a intervenção na DA com implantação de três stents metálicos e bom resultado final. Durante o internamento permaneceu sem recorrência de angor, mantendo estabilidade elétrica, hemodinâmica e classe de Killip 1. Evoluiu com ondas Q associado a supradesnivelamento de ST e inversão da onda T de V1-V4, pico de troponina I > 100 ng/ml, Ckmassa 105,6 ng/ml e BNP máximo de 2.490 pg/ml.

Transferido para o Hospital de origem com o diagnostico de enfarte agudo do miocárdio (EAM) precipitado pelo uso de zolmitriptano (Figuras 1–5).

Figura 1.

Eletrocardiograma na admissão.

(0.13MB).
Figura 2.

Coronariografia a evidenciar a lesão culprit - estenose suboclusiva do segmento proximal da DA.

(0.08MB).
Figura 3.

Coronariografia a evidenciar estenose crítica da Cx.

(0.08MB).
Figura 4.

Coronariografia a evidenciar estenose significativa da CD.

(0.08MB).
Figura 5.

Coronariografia após implantação de 3 stents metálicos na DA.

(0.08MB).
Discussão

Os triptanos constituem uma terapêutica bem estabelecida no tratamento agudo da enxaqueca1. O fármaco é absorvido com rapidez e o seu inicio de ação ocorre tipicamente 30 a 60 minutos após a toma. A sua ação envolve a ativação dos recetores 5HT1B/D, induzindo a vasoconstrição dos vasos cerebrais que estão dilatados durante as crises de enxaqueca2. Além disso, reduzem a secreção de péptidos vasoativos e a condução de estímulos dolorosos ao córtex cerebral2. Apesar de os triptanos exercerem o seu efeito terapêutico através da vasoconstrição dos vasos cerebrais, também está documentada a vasoconstrição da vasculatura coronária, pulmonar, renal e sistémica3. O uso de triptanos está associado a ocorrência de dor torácica em 1-7% dos casos, que na maioria das vezes é de intensidade ligeira, transitória e não provoca isquemia4. A incidência de EAM em doentes medicados com triptanos é baixa e a maioria dos casos reportados estão associados ao uso do sumatriptano5,6 quer em doentes com doença coronária significativa6,7 quer em doentes sem doença coronária angiograficamente significativa8. Contudo, também têm sido descritos casos de SCA após o uso de outros triptanos como o zolmitriptano7 e frovatriptano.

Apresentamos o caso raro de um EAM num doente com risco cardiovascular elevado e doença coronária significativa demonstrada na angiografia precipitado pela toma de zolmitriptano, que constitui o 3.° caso publicado na literatura de acordo com uma pesquisa efetuada na Medline. O primeiro caso foi reportado por Mikhail et al. em 20049 e o segundo em 2009 por Roberto Pacheco et al.10 que, diferentemente do caso aqui relatado, apresentam descrições de EAM em doentes sem FRV e coronárias angiograficamente normais. Tal como sugerido por Evans11 alertamos para a não utilização destes fármacos em doentes com cardiopatia isquémica conhecida (que constitui uma contraindicação absoluta), e advertimos para a necessidade de realizar uma avaliação cardiovascular prévia em indivíduos com fatores de risco para doença cardíaca isquémica. Relembramos também que os SCA associados ao uso de triptanos podem ocorrer em doentes sem FRV e sem doença coronária significativa, pelo que todos os doentes em uso deste fármaco devem ser aconselhados acerca dos sintomas de isquémia do miocárdio e avaliados de forma efetiva e em tempo útil sempre que estes ocorram.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

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