Informação da revista
Vol. 32. Núm. 12.
Páginas 987-996 (dezembro 2013)
Visitas
21586
Vol. 32. Núm. 12.
Páginas 987-996 (dezembro 2013)
Artigo Original
Open Access
Caracterização do perfil lipídico nos utentes dos cuidados de saúde primários em Portugal
Characterization of lipid profile in primary health care users in Portugal
Visitas
21586
Nuno Cortez-Diasa,b,c,
Autor para correspondência
cortezdias@yahoo.com

Autor para correspondência.
, Susana Robalo Martinsa,c, Adriana Belod, Manuela Fiúzaa,c, em nome dos Investigadores do Estudo VALSIM
a Serviço de Cardiologia, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Lisboa, Portugal
b Programa de Formação Médica Avançada da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Champalimaud, Ministério da Saúde e Fundação para a Ciência e Tecnologia, Lisboa, Portugal
c Centro de Cardiologia da Universidade de Lisboa, Clínica Universitária de Cardiologia da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
d Centro Nacional de Colecção de Dados em Cardiologia, Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Lisboa, Portugal
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (4)
Mostrar maisMostrar menos
Tabelas (7)
Tabela 1. Distribuição da concentração sérica do colesterol na população, em função do sexo e grupo etário
Tabela 2. Distribuição da concentração de colesterol LDL na população, em função do sexo e grupo etário
Tabela 3. Distribuição da concentração de triglicéridos na população, em função do sexo e grupo etário
Tabela 4. Distribuição da concentração de colesterol HDL na população, em função do sexo e grupo etário
Tabela 5. Distribuição da população em função do perfil lipídico (prevalências ajustadas ao sexo, idade e região de residência)
Tabela 6. Distribuição da população do sexo masculino em função do perfil lipídico, por grupo etário
Tabela 7. Distribuição da população do sexo feminino em função do perfil lipídico, por grupo etário
Mostrar maisMostrar menos
Resumo
Objetivo

Caracterizar a distribuição dos níveis de colesterol total (CT), colesterol LDL (C-LDL), colesterol HDL (C-HDL) e triglicéridos nos utentes dos cuidados de saúde primários em Portugal.

Métodos

Estudo transversal envolvendo 719 médicos de família, segundo distribuição estratificada e proporcional à densidade populacional de cada região. Os primeiros dois utentes adultos de cada dia de consulta foram convidados a participar independentemente do motivo de consulta. Foi utilizado um inquérito para recolha de dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais, incluindo o perfil lipídico avaliado nos 12 meses precedentes.

Resultados

Foram avaliados 16.856 indivíduos (61,6% do sexo feminino, 58±15 anos), dispondo-se da determinação de CT, C-LDL, C-HDL e triglicéridos em 95,9% (N=16.159), 59,1% (N=9.956), 95,4% (N=16.074) e 97,9% (N=16.494), respetivamente. Detetou-se hipercolesterolemia (≥200mg/dl) em 47% e níveis aumentados de C-LDL (≥130mg/dl) em 38,4%. A hipertrigliceridemia (≥200mg/dl) e o C-HDL diminuído (<40mg/dl) foram menos prevalentes, afetando 13% da população. A dislipidemia foi mais frequente nos homens entre os 30-60 anos e nas mulheres pós-menopausa. Considerando a população com idade ≥40 anos, 54,1% dos indivíduos cumpriam critérios de elegibilidade para terapêutica hipolipidemiante e 44,7% estavam medicados com estatinas (mas apenas 16,0% desses apresentavam CT ≤175mg/dl).

Conclusões

A prevalência de dislipidemia é elevada entre os utentes adultos dos cuidados de saúde primários em Portugal. Além disso, é particularmente frequente nos homens entre os 30-60 anos e nas mulheres após a menopausa, que deverão constituir grupos-alvo nas estratégias preventivas de saúde pública.

Palavras-chave:
Hipercolesterolemia
Dislipidemia
Hipertrigliceridemia
Prevalência
Abreviaturas:
DCV
CT
C-LDL
C-HDL
PNA
TG
Abstract
Aim

To characterize the distribution of total cholesterol (TC), LDL cholesterol (LDL-C), HDL cholesterol (HDL-C) and triglycerides in primary health care users.

Methods

We performed a cross-sectional study in a primary care setting, involving 719 general practitioners based on stratified distribution proportional to the population density of each region of Portugal.

The first two adult patients scheduled for an appointment on a given day were invited to participate. A questionnaire was applied to assess sociodemographic, clinical and laboratory data including lipid profile.

Results

The study included 16 856 individuals (mean age 58.1±15.1 years; 61.6% women). Data on TC, LDL-C, HDL-C and triglycerides were available for 95.9% (n=16 159), 59.1% (n=9956), 95.4% (n=16 074) and 97.9% (n=16 494) of the population, respectively. Hypercholesterolemia (TC ≥200 mg/dl) was detected in 47%, and 38.4% had high levels of LDL-C (≥130 mg/dl). Hypertriglyceridemia (≥200 mg/dl) and low HDL-C (<40 mg/dl) were less prevalent, affecting roughly 13% of the population. Dyslipidemia was more common in middle-aged men and in post-menopausal women. Of the population aged over 40, 54.1% met eligibility criteria for lipid-lowering therapy and 44.7% were medicated with statins, but only 16.0% of these had TC ≤175 mg/dl.

Conclusions

Dyslipidemia is highly prevalent in primary health care users in Portugal. It is particularly common in middle-aged men and post-menopausal women, who should be considered target groups for preventive public health measures.

Keywords:
Hypercholesterolemia
Dyslipidemia
Hypertriglyceridemia
Prevalence
Texto Completo
Introdução

As doenças cardiovasculares (DCV) constituem a principal causa de morbilidade e mortalidade a nível mundial. Em Portugal, o problema é também relevante, não só no que respeita à doença coronária como particularmente no que concerne ao acidente vascular cerebral, cuja incidência é das mais elevadas em todo o mundo1,2. Além disso, a incidência destas doenças tem aumentado nos países ocidentais e em desenvolvimento, como consequência da modificação dos estilos de vida e do aumento da prevalência dos fatores de risco cardiovasculares3,4.

A dislipidemia é um fator de risco relevante para DCV, já que o colesterol é um elemento essencial na composição da placa de ateroma. Encontra-se claramente demonstrada a relação entre os níveis de colesterolemia e o risco de doença coronária ou doença cerebrovascular5,6. Estima-se que a hipercolesterolemia esteja implicada em 56% da ocorrência de doença coronária e 18% da ocorrência de doença cerebrovascular7,8. Por outro lado, tem sido demonstrado que a diminuição dos níveis de colesterol total (CT) e da sua fração de baixo peso molecular (colesterol-LDL [C-LDL]), nomeadamente com inibidores da HMG-coenzima A redutase (estatinas), reduz a incidência de DCV (prevenção primária9–11 e diminui o risco da sua recorrência [prevenção secundária12,13]). Os benefícios produzidos na mortalidade justificam que a avaliação do risco cardiovascular global assuma atualmente relevância primordial.

As sociedades médicas internacionais têm revisto sucessivamente os níveis de colesterol considerados ótimos na população geral e nos indivíduos com risco acrescido, e por conseguinte tem-se reduzido o limiar para o diagnóstico de hipercolesterolemia14–16. Aceita-se hoje que outras alterações do perfil lipídico predispõem a DCV em idade precoce. A dislipidemia aterogénica tem sido definida pela conjugação de níveis aumentados de triglicéridos (TG), apolipoproteína B e pequenas partículas LDL, associada a níveis diminuídos de colesterol-HDL (C-HDL). Além disso, a dislipidemia aterogénica está frequentemente associada a outros fatores de risco cardiovascular sob a forma de síndrome metabólica.

A dimensão do problema da dislipidemia em Portugal foi previamente abordada em vários estudos epidemiológicos a nível regional17–19 e nacional20,21, e foi estimado em revisão sistemática22–24. No entanto, esses estudos apresentavam grande heterogeneidade nos critérios diagnósticos de dislipidemia, características metodológicas, populações-alvo e métodos laboratoriais de doseamento dos lípidos. Assumirá por isso especial relevância a presente análise do perfil lipídico nos utentes adultos avaliados nos cuidados de saúde primários em Portugal.

O presente estudo pretende caracterizar a distribuição dos níveis de CT, C-LDL, C-HDL e TG e estimar a prevalência de dislipidemia na população utente dos cuidados de saúde primários em Portugal. Adicionalmente, pretendeu-se determinar a prevalência da utilização de terapêutica hipolipidemiante e avaliar o controlo do perfil lipídico nesses doentes.

Métodos

O estudo VALSIM foi desenhado como um estudo observacional transversal de utentes adultos dos cuidados de saúde primários em Portugal25. Participaram no estudo 719 médicos de família, segundo distribuição estratificada e proporcional por distrito e região de Portugal continental, Madeira e Açores. O estudo decorreu entre abril de 2006 e novembro de 2007.

Os dois primeiros utentes adultos que cumprissem os critérios de inclusão foram convidados a participar, independentemente do motivo da consulta e da presença de fatores de risco cardiovascular. O critério de inclusão foi a existência de doseamentos da glicemia em jejum, C-HDL e triglicéridos realizados no último ano. Constituiu critério de exclusão a presença de condições clínicas que pudessem condicionar o diagnóstico de síndrome metabólica, como disfunção tiroideia. Após a obtenção de consentimento informado, foi aplicado um questionário para caracterização sociodemográfica, antropométrica, clínica (antecedentes pessoais, medicação em curso, hábitos alimentares e prática de exercício físico) e laboratorial. A doença coronária foi definida pela existência desse diagnóstico assumido pelo médico assistente, sem que tenham sido exigidos exames confirmatórios e sem distinção do quadro clínico implicado (angina de peito, síndrome coronária aguda ou enfarte do miocárdio). O acidente vascular cerebral foi também definido pela existência desse diagnóstico assumido pelo médico assistente, sem que tenham sido exigidos exames confirmatórios e sem distinção do subtipo (AVC isquémico ou AVC hemorrágico). A diabetes mellitus foi definida pela presença de glicemia em jejum ≥126mg/dl ou abaixo desse limiar mediante terapêutica com antidiabéticos orais ou insulina.

O risco de morte por causa cardiovascular em dez anos foi estimado para a população com idade superior a 40 anos aplicando o sistema de estratificação SCORE na versão destinada a países com baixo risco de doença cardiovascular26. Os indivíduos com idade inferior a 40 anos não foram considerados nessa subanálise. Os indivíduos com idade superior a 65 anos foram incluídos na mesma e o seu risco foi estimado pela aplicação das fórmulas de cálculo para a idade de 65 anos. Considerou-se existir elevado risco cardiovascular a priori nos doentes com história de doença coronária, acidente vascular cerebral, diabetes mellitus ou hipercolesterolemia grave (CT ≥320mg/dl ou C-LDL ≥240mg/dl). Entre os restantes indivíduos, considerou-se existir elevado risco cardiovascular após estratificação naqueles cujo risco estimado de morte por causa cardiovascular em dez anos fosse ≥5%.

Tendo em vista a possibilidade de comparação com os estudos prévios realizados na população portuguesa, a prevalência de hipercolesterolemia foi determinada aplicando diferentes definições: (1) como a presença de níveis séricos de CT ≥200mg/dl; (2) pela presença de CT ≥200mg/dl ou abaixo desse limiar mediante terapêutica hipolipidemiante e (3) aplicando diferentes limiares em função do risco estimado de morte por causa cardiovascular aos dez anos. Relativamente a esta última classificação, considerou-se existir hipercolesterolemia: nos indivíduos com baixo risco cardiovascular que apresentassem CT ≥190mg/dl (5mmol/L); nos indivíduos com risco cardiovascular elevado (a priori ou após estratificação) que tivessem CT ≥175mg/dl (4,5mmol/L); e independentemente do risco cardiovascular estimado, em todos aqueles que estivessem medicados com fármacos hipolipidemiantes.

Consideraram-se elegíveis para terapêutica hipolipidemiante os doentes que apresentassem risco cardiovascular elevado e CT ≥175mg/dl (4,5mmol/L), bem como aqueles que já estivessem sob terapêutica hipolipidemiante.

Análise estatística

As variáveis categóricas foram avaliadas com determinação da frequência absoluta e da frequência relativa, com intervalos de confiança a 95%. Na estimativa das prevalências procedeu-se à padronização das taxas com correção para o sexo e idade através do teorema da probabilidade total, tendo em conta a composição demográfica da população adulta residente em Portugal, por distrito e região, no ano 2000 (CENSUS 2001, INE). As variáveis categóricas foram comparadas com o teste do qui-quadrado. Em relação às variáveis numéricas, calculou-se o número de observações (N), média, desvio padrão, mediana e análise de variância (teste de Levene). As variáveis numéricas com distribuição normal (avaliada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov) foram comparadas utilizando-se os testes t-Student e as variáveis com distribuição não normal foram comparadas mediante testes não paramétricos (Kruskal-Wallis). A análise estatística foi efetuada em SPSS, sendo considerado o nível de significância de 5% nas análises comparativas (p<0,05).

ResultadosCaracterização da população

No Estudo VALSIM foram avaliados 16 856 indivíduos (61,6% do sexo feminino) com a idade média de 58±15 anos. Dispôs-se de determinação dos níveis séricos de CT, C-LDL, C-HDL e TG em 95,9% (N=16 159), 59,1% (N=9956), 95,4% (N=16 074) e 97,9% (N=16 494) da população, respetivamente.

Entre os indivíduos avaliados, 14 251 tinham idade ≥40 anos (homens [H]: 5573; mulheres [M]: 8678). Nessa população, 29,5% (H: 34,4%; M: 25,4%) cumpriam pelo menos um critério para serem considerados como tendo elevado risco cardiovascular a priori: 8,2% dos doentes tinham doença coronária (H: 9,5%; M: 7,2%); 3,3% tinham história de doença cerebrovascular (H: 3,7%; M: 2,8%); 22,1% tinham diabetes mellitus (H: 25,3%; M: 19,4%) e 1,5% apresentavam hipercolesterolemia grave (CT ≥320mg/dl ou C-LDL ≥240mg/dl; H:1,8%; M: 1,2%). Adicionalmente, 3,7% foram alocados ao grupo de elevado risco após estratificação (H: 6,9%; M: 0,8%), visto o risco estimado aos dez anos ser ≥5%.

Níveis séricos dos lípidos

Na população estudada a concentração média de CT foi de 206±41mg/dl. O CT médio ajustado para o sexo e idade foi de 200±40mg/dl, sem diferenças entre os sexos (H: 200±42mg/dl; M: 200±38mg/dl). A concentração média de C-LDL foi de 126±37mg/dl, traduzindo um nível ajustado para o sexo e idade de 122±36mg/dl (H: 123±37mg/dl; M: 120±35mg/dl). Os níveis de CT e C-LDL evoluíram com a idade em crescendo-decrescendo – Tabela 1 e Tabela 2. Até à 5.a década de vida, o CT e sua fração LDL foram mais elevados no sexo masculino. Entre os indivíduos mais idosos, foram mais elevados nas mulheres.

Tabela 1.

Distribuição da concentração sérica do colesterol na população, em função do sexo e grupo etário

Sexo e grupo etário  Colesterol (Média±DP)  Percentil selecionado
      5°  10°  15°  25°  50°  75°  85°  90°  95° 
Homens  6163  204±42  141  154  163  177  200  230  246  259  277 
18-29  240  182±39  123  136  144  159  180  201  222  232  246 
30-39  449  201±41  143  154  162  174  199  226  240  256  273 
40-49  792  213±45  146  160  168  184  210  240  260  271  294 
50-59  1348  211±44  146  159  169  181  207  237  255  265  288 
60-69  1648  205±41  142  156  165  179  202  230  247  259  276 
70-79  1346  198±40  138  151  159  173  195  220  239  248  264 
80  317  195±40  134  148  157  169  191  218  235  249  265 
Mulheres  9889  207±40  148  160  168  180  203  230  246  258  277 
18-29  521  183±37  132  141  149  160  179  204  215  224  246 
30-39  824  189±35  136  148  155  168  187  208  224  232  250 
40-49  1406  200±36  145  156  164  176  198  221  238  247  260 
50-59  2146  213±39  156  167  175  187  210  237  251  265  283 
60-69  2527  212±40  153  165  173  185  210  235  252  263  281 
70-79  1982  210±40  151  163  172  183  207  233  250  263  282 
80  449  209±41  152  163  170  183  206  232  251  261  283 
Total  16 159  206±41  145  158  166  179  202  230  246  258  277 
Tabela 2.

Distribuição da concentração de colesterol LDL na população, em função do sexo e grupo etário

Sexo e grupo etário  Colesterol LDL (Média±DP)  Percentil selecionado
      5°  10°  15°  25°  50°  75°  85°  90°  95° 
Homens  3807  126±38  68  81  90  100  124  149  164  174  190 
18-29  134  110±34  62  73  78  88  106  128  143  160  177 
30-39  271  124±36  71  85  88  98  121  148  164  171  189 
40-49  487  130±40  70  80  90  103  130  155  170  184  196 
50-59  822  132±39  74  85  94  106  128  155  169  183  201 
60-69  1019  127±38  68  82  93  101  126  150  164  174  186 
70-79  852  121±35  67  79  87  98  120  141  157  166  180 
80  210  120±36  55  72  86  100  118  145  157  168  182 
Mulheres  6085  126±37  71  82  90  101  124  148  162  173  190 
18-29  294  103±29  60  68  75  84  100  121  131  137  157 
30-39  456  114±35  64  73  79  91  110  133  149  156  178 
40-49  841  120±34  67  79  86  97  119  142  155  164  178 
50-59  1326  131±37  74  86  94  107  129  154  169  179  196 
60-69  1624  131±36  76  87  96  107  129  152  166  178  192 
70-79  1271  127±36  72  86  94  103  125  148  162  174  190 
80  255  129±41  70  81  90  101  123  150  172  181  200 
Total  9956  126±37  70  81  90  101  124  149  162  173  190 

Os valores médios dos TG ajustados ao sexo e idade foram 132±81mg/dl, tendo sido significativamente mais elevados nos homens (H: 146±96mg/dl vs. M: 119±69mg/dl; p <0,001). Os TG evoluíram com a idade em crescendo-decrescendo, tendo sido mais elevados no sexo masculino em todos os grupos etários – Tabela 3. Além disso, os valores médios mais elevados foram atingidos mais precocemente entre os homens.

Tabela 3.

Distribuição da concentração de triglicéridos na população, em função do sexo e grupo etário

Sexo e grupo etário  Triglicéridos (Média±DP)  Percentil selecionado
      5°  10°  15°  25°  50°  75°  85°  90°  95° 
Homens  6304  146±94  58  68  76  91  125  176  209  240  296 
18-29  245  120±78  43  53  61  72  98  143  165  201  282 
30-39  459  153±106  57  67  76  90  124  180  224  259  337 
40-49  816  169±120  61  73  82  96  136  200  258  299  374 
50-59  1388  157±105  62  74  83  96  137  188  218  250  326 
60-69  1676  147±88  61  72  78  93  129  178  208  237  278 
70-79  1374  128±66  54  64  70  82  113  157  187  207  241 
80  323  126±60  59  64  69  87  111  150  180  197  235 
Mulheres  10 078  127±70  54  63  70  82  112  153  181  204  248 
18-29  530  102±83  45  54  59  69  90  121  140  154  182 
30-39  830  109±58  44  52  59  71  98  134  158  180  217 
40-49  1434  117±66  47  56  61  73  102  142  168  192  245 
50-59  2189  129±69  54  63  70  82  113  155  185  210  259 
60-69  2579  135±75  60  69  76  89  119  161  190  215  263 
70-79  2026  134±65  62  72  79  91  119  162  189  213  250 
80  457  128±56  64  72  80  90  117  153  172  193  224 
Total  16 494  134±80  55  65  72  85  117  161  192  217  268 

A concentração média de C-HDL ajustada ao sexo e idade foi 55±17mg/dl, tendo sido significativamente inferior no sexo masculino (H: 51±17mg/dl vs. M: 58±18mg/dl; p <0,001). Os níveis de C-HDL não variaram significativamente com a idade – Tabela 4.

Tabela 4.

Distribuição da concentração de colesterol HDL na população, em função do sexo e grupo etário

Sexo e grupo etário  Colesterol HDL (Média±DP)  Percentil selecionado
      5°  10°  15°  25°  50°  75°  85°  90°  95° 
Homens  6161  51±18  33  36  38  42  48  57  63  68  76 
18-29  237  51±15  32  35  37  42  49  58  61  65  70 
30-39  448  50±16  32  36  37  40  47  55  60  65  75 
40-49  794  50±16  32  35  36  40  47  56  61  68  74 
50-59  1369  51±16  33  36  38  42  48  57  62  66  74 
60-69  1635  52±18  33  37  39  42  49  58  64  68  76 
70-79  1347  52±19  33  36  39  42  49  58  65  69  78 
80  309  53±22  32  36  38  42  49  59  65  70  78 
Mulheres  9801  57±18  37  40  43  47  55  65  70  75  83 
18-29  500  60±16  38  42  45  50  58  67  72  79  86 
30-39  795  59±18  37  41  44  48  57  66  72  78  84 
40-49  1382  58±18  37  41  44  47  56  65  70  76  84 
50-59  2132  57±18  37  40  42  47  55  65  70  75  84 
60-69  2529  56±17  37  40  42  47  54  63  69  74  81 
70-79  1986  58±20  37  40  42  47  55  65  71  76  84 
80  447  57±16  37  41  43  47  55  66  73  78  86 
Total  16 074  55±18  35  38  41  45  52  62  68  73  81 
Prevalência da dislipidemia

A prevalência estimada de hipercolesterolemia na população utente dos cuidados de saúde primários foi de 47,0% (prevalência não ajustada [PNA]=53,2%), considerando o limiar de CT de 200mg/dl. Cerca de 57,9% (PNA=64,4%) da população apresentou CT ≥190mg/dl e os níveis de CT foram ≥250mg/dl em 11,4% (PNA=13,4%). Em termos globais, a prevalência de hipercolesterolemia foi comparável nos dois sexos (Tabela), mas variou significativamente com a idade. Entre os indivíduos de meia-idade tendeu a ser maior no sexo masculino, enquanto nos grupos etários mais avançados tendeu a predominar entre as mulheres – Figura 1, Tabela 6. Detetou-se C-LDL elevado (≥130mg/dl) em 38,4% da população, tendo essa proporção sido comparável em ambos os sexos.

Figura 1.

Prevalência de hipercolesterolemia (≥200mg/dL) na população, por sexo e idade.

(0.1MB).

Detetou-se hipertrigliceridemia (≥200mg/dl) em 12,7% e C-HDL diminuído (<40mg/dl) em 12,8% da população. A hipertrigliceridemia foi mais frequente nos homens (OR: 1,43; IC 95% 1,37-1,48; p <0,001), o mesmo sucedendo com a ocorrência de C-HDL diminuído (OR: 1,59; IC 95% 1,55-1,63; p <0,001) – Tabela 5.

Tabela 5.

Distribuição da população em função do perfil lipídico (prevalências ajustadas ao sexo, idade e região de residência)

Variável  Homens %  Mulheres %  Total % 
Colesterol total
<200mg/dl  53,1  52,9  53,0 
200-239mg/dl  30,1  31,9  31,0 
240mg/dl  16,9  15,2  16,0 
200mg/dl  46,9  47,1  47,0 
Colesterol-LDL
<100mg/dl  26,3  28,7  27,6 
100-129mg/dl  33,0  35,0  34,0 
130-159mg/dl  24,2  23,5  23,8 
160-189mg/dl  11,4  8,6  10,0 
190mg/dl  5,0  4,2  4,6 
130mg/dl  40,7  36,3  38,4 
Triglicéridos
<150mg/dl  65,8  76,8  71,6 
150-199mg/dl  17,5  14,2  15,8 
200-499mg/dl  15,5  8,7  12,0 
500mg/dl  1,2  0,2  0,7 
200mg/dl  16,7  9,0  12,7 
Colesterol-HDL
60mg/dl  20,2  40,6  30,9 
40-59mg/dl  60,9  52,2  56,3 
<40mg/dl  18,9  7,2  12,8 

A prevalência das diversas anomalias do perfil lipídico evoluiu com a idade em crescendo-decrescendo – Figuras 2 e 3. As prevalências mais elevadas foram atingidas na 4.a década de vida nos homens (Tabela 6) e uma a duas décadas mais tarde nas mulheres (Tabela 7).

Figura 2.

Prevalência de hipertrigliceridemia (≥200mg/dL) na população, por sexo e idade.

(0.09MB).
Figura 3.

Prevalência de colesterol-HDL diminuído (<40mg/dL) na população, por sexo e idade.

(0.09MB).
Tabela 6.

Distribuição da população do sexo masculino em função do perfil lipídico, por grupo etário

Variável  Grupo etário
  18-29 anos %  30-39 anos %  40-49 anos %  50-59 anos %  60-69 anos %  70-79 anos %  80 anos %  Total % 
Colesterol total
<200mg/dl  72,1  50,6  39,0  42,8  46,2  54,9  58,4  53,1 
200-239mg/dl  21,3  34,1  35,5  33,5  34,6  30,3  28,7  30,1 
240mg/dl  6,7  15,4  25,5  23,7  19,2  14,8  12,9  16,9 
Colesterol-LDL
<100mg/dl  40,3  27,3  22,4  17,8  22,0  25,9  24,3  26,3 
100-129 mg/dl  35,1  29,5  26,1  34,5  32,2  36,2  38,6  33,0 
130-159mg/dl  14,2  26,2  30,4  25,9  27,4  24,2  23,3  24,2 
160-189mg/dl  8,2  12,5  14,2  13,5  14,1  10,1  11,4  11,4 
190mg/dl  2,2  4,4  7,0  8,3  4,3  3,6  2,4  5,0 
Triglicéridos
<150mg/dl  77,1  63,8  57,7  58,1  61,4  71,1  73,7  65,8 
150-199mg/dl  13,1  15,0  17,3  21,2  21,1  17,0  17,0  17,5 
200-499mg/dl  9,8  19,2  22,3  19,4  16,7  11,5  9,3  15,5 
500mg/dl  0,0  2,0  2,7  1,4  0,8  0,4  0,0  1,2 
Colesterol-HDL
60mg/dl  21,9  17,4  18,1  19,6  21,7  22,9  23,0  20,2 
40-59mg/dl  59,5  60,9  58,1  60,9  61,8  60,2  58,9  60,9 
<40mg/dl  18,6  21,7  23,8  19,4  16,6  16,9  18,1  18,9 
Tabela 7.

Distribuição da população do sexo feminino em função do perfil lipídico, por grupo etário

Variável  Grupo etário
  18-29 anos %  30-39 anos %  40-49 anos %  50-59 anos%  60-69 anos %  70-79 anos%  80 anos%  Total 
Colesterol total
<200mg/dl  72,4  64,2  52,4  39,3  39,3  42,6  43,9  52,9 
200-239mg/dl  21,7  28,0  33,4  38,3  38,9  36,8  35,9  31,9 
240mg/dl  6,0  7,8  14,2  22,4  21,8  20,6  20,3  15,2 
Colesterol-LDL
<150mg/dl  88,3  81,7  78,9  72,1  68,8  67,8  73,3  76,8 
150-199mg/dl  9,2  11,6  12,3  16,1  17,9  19,8  18,6  14,2 
200-499mg/dl  2,3  6,6  8,6  11,5  12,9  11,9  7,9  8,7 
500mg/dl  0,2  0,1  0,2  0,2  0,4  0,4  0,2  0,2 
Triglicéridos
<100 mg/dl  46,6  36,4  27,6  18,5  17,9  20,1  22,0  28,7 
100-129mg/dl  35,7  34,9  34,5  32,3  33,4  36,2  34,9  35,0 
130-159mg/dl  13,9  19,7  26,4  28,2  29,3  27,0  23,9  23,5 
160-189mg/dl  2,7  5,9  8,7  13,7  13,9  11,4  12,5  8,6 
190 mg/dl  1,0  3,1  2,9  7,3  5,6  5,3  6,7  4,2 
Colesterol-HDL
60 mg/dl  46,8  42,5  38,7  35,8  34,4  36,1  36,7  40,6 
40-59 mg/dl  47,4  50,3  54,1  55,3  56,9  55,0  55,9  52,2 
<40mg/dl  5,8  7,2  7,2  8,9  8,6  8,9  7,4  7,2 

Se a hiperlipidemia for definida como a presença de CT ≥200mg/dl ou abaixo desse limiar mediante terapêutica hipolipidemiante, a sua prevalência atingiu 63,7% (PNA=73,5%), sem diferença significativa em função do sexo (H: 63,9%; M: 63,4%).

Tendo em consideração simultaneamente a estratificação do risco cardiovascular aos dez anos e os níveis séricos de CT, a prevalência de hipercolesterolemia na população atingiu 82,2% (H: 83,1%; M: 81,4%; p <0,001).

Terapêutica hipolipidemiante

Considerando a população com idade ≥40 anos, 54,1% dos indivíduos cumpriam critérios de elegibilidade para terapêutica hipolipidemiante (H: 57,8%; M: 50,8%). A elegibilidade para terapêutica hipolipidemiante foi significativamente mais frequente nos homens (OR: 1,45; IC 95% 1,31-1,61; p <0,001) e aumentou com a idade – Figura 4.

Figura 4.

Elegibilidade para terapêutica hipolipidemiante.

(0.1MB).

Entre os indivíduos com idade ≥40 anos, 44,7% estavam medicados com estatinas (H: 45,4%; M: 44,0%). Entre os doentes com indicação potencial para terapêutica hipolipidemiante, 77,7% estavam medicados, tendo essa proporção sido maior no sexo feminino (H: 73,6%; M: 81,4%).

Entre os doentes medicados com estatinas, apenas 16,0% apresentavam CT em níveis ótimos de controlo (≤175mg/dl) – H: 18,6%; M: 13,8%. Além disso, apenas 12,8% apresentavam controlo simultaneamente dos níveis de CT (≤175mg/dl) e C-LDL (<100mg/dl) – H: 15,1%; M: 10,8%.

Discussão

O presente estudo mostrou que a prevalência de dislipidemia é elevada entre os utentes adultos dos cuidados de saúde primários em Portugal. Assim, detetou-se hipercolesterolemia (considerando o limiar de CT de 200mg/dl) em 47% da população e 38,4% dos indivíduos possuíam níveis de C-LDL ≥130mg/dl. A hipertrigliceridemia (≥200mg/dl) e o C-HDL diminuído (<40mg/dl) foram menos prevalentes, afetando menos de 13% da população.

A prevalência das doenças cardiovasculares tem aumentado progressivamente, inicialmente nos países desenvolvidos e mais recentemente naqueles em vias de desenvolvimento, a par com a modificação dos estilos de vida e o aumento do peso da população. Em Portugal, a prevalência da obesidade aumentou também na última década27,28, estimando-se que afete atualmente 16,8% dos homens e 21,8% das mulheres29. O impacto epidemiológico desfavorável dos fatores de risco cardiovasculares só não será provavelmente maior porque têm sido implementadas estratégias preventivas que têm melhorado o controlo de vários deles. Assim, a melhoria da deteção e tratamento da hipertensão arterial conduziu à redução progressiva dos valores médios de pressão arterial a nível mundial nas últimas três décadas30. Porém, o efeito das diversas intervenções sobre o perfil lipídico das populações tem sido provavelmente mais limitado. Não obstante estarem disponíveis fármacos hipolipidemiantes muito potentes e apesar de os mesmos serem utilizados generalizadamente, a concentração média de CT permaneceu praticamente inalterada a nível mundial durante o mesmo período de tempo31. Por isso, assume especial relevância a avaliação do perfil lipídico da população e a determinação do controlo da dislipidemia.

A concentração média de CT ajustada ao sexo e idade por nós estimada nos utentes adultos dos cuidados de saúde primários em Portugal (200±40mg/dl) é comparável àquelas atualmente registadas nos países desenvolvidos da Europa Ocidental, América do Norte e Sudoeste Asiático (H: 203mg [196-208mg]; M: 202mg [195-210mg]30). Apesar de os valores médios de CT terem sido globalmente similares dos dois sexos, diferiram significativamente na sua evolução em função da idade. Os níveis de CT, C-LDL e TG aumentaram com a idade até valores máximos atingidos nos homens aos 40-49 anos e nas mulheres aos 50-59 anos. Nas faixas etárias mais jovens, as diferenças entre os sexos foram muito acentuadas, sendo os níveis lipídicos significativamente mais elevados entre os homens. Nos indivíduos mais idosos a diferença entre os sexos atenuou-se e tendeu a ocorrer inversão da relação, com valores discretamente mais elevados entre as mulheres. A variação observada do perfil lipídico com a idade está também de acordo com as observações noutros estudos32.

A prevalência da dislipidemia em Portugal foi previamente abordada em vários estudos epidemiológicos a nível regional17–19 e nacional20,21 e foi estimada em revisão sistemática22–24. 71% por cento desses estudos utilizaram como critério de hipercolesterolemia um valor de CT ≥200mg/dl e estimaram uma prevalência entre 47-75%22–24. O estudo BECEL (Projeto Epidemiológico de Caracterização do Perfil Lipídico da População Portuguesa), conduzido em 2001, incluiu 1500 indivíduos com idades entre os 18-96 anos22–24. Foi observada hipercolesterolemia (definida por CT ≥190mg/dl) em 68,5% (66,4-70,5; 95% IC) e 23,4% dos indivíduos tinham CT ≥240mg/dl. Nesse estudo, 71% dos indivíduos apresentavam C-LDL ≥115mg/dl. O estudo ALTO-MAR (2001) incluiu 16.763 indivíduos. Nesse estudo, 23,4% dos indivíduos apresentavam CT ≥240mg/dl e em 21,8% foi ≥250mg/dl (22-24). A comparação dos resultados destes estudos é dificultada pela aplicação de diferentes definições de dislipidemia, justificada pela diversidade de limiares diagnósticos propostos pelas sociedades científicas internacionais. O estudo VALSIM foi desenhado tendo por base as recomendações NCEP ATP-III15 e os resultados constantes neste artigo são sumarizados de acordo com esses limiares. No entanto, para facilitar a comparação com estudos epidemiológicos baseados noutras definições, apresentámos também estimativas de prevalência considerandos os outros limiares mais frequentemente empregues. Os nossos resultados sugerem menores valores de prevalência da dislipidemia entre os utentes dos cuidados de saúde em Portugal: 47% dos indivíduos exibiam CT ≥200mg/dl e 16% apresentaram CT ≥240mg/dl. Estes valores estão em linha com as estimativas de prevalência de hipercolesterolemia nos países próximos. Em particular, em Espanha estima-se que 20% dos adultos apresentem CT >250mg/dl e 50% tenham CT ≥200mg/dl33,34.

O nosso estudo indica ainda que 44,7% dos utentes dos cuidados de saúde primários com idade superior a 40 anos estarão medicados com estatinas. Estes resultados estão de acordo com a evolução da despesa com fármacos hipolipidemiantes em Portugal. De acordo com o estudo de Teixeira et al.35, o número de doses diárias definidas por 1000 habitantes/dia passou de 10,21 em 1995 para 67,93 em 2004. Assim, a utilização de estatinas teve um crescimento médio anual de 34,5% e a despesa com fármacos hipolipidemiantes atingiu 5% dos encargos com medicamentos em ambulatório (123 milhões de euros em 2003).

A documentação de uma prevalência de hipercolesterolemia tão elevada e da insuficiência do seu controlo justificam a necessidade de se implementarem medidas de estratégia populacional, em particular no âmbito de uma alimentação saudável, que complementem as medidas farmacológicas destinadas aos subgrupos populacionais de alto risco.

Limitações

O presente estudo foi realizado no contexto dos cuidados de saúde primários, uma vez que em estudos populacionais esta é uma forma de fidedigna de recrutar grandes números de indivíduos, representativos das várias regiões de um país. No entanto, o desenho do estudo obriga a grande precaução na extrapolação dos resultados para a realidade populacional global, já que poderão existir diferenças relevantes entre a população seguida nos cuidados de saúde primários e os demais indivíduos. Além disso, o método de seleção (os primeiros dois utentes de cada dia de consulta), pretendendo-se aleatório, pode ser afetado pelas limitações no acesso aos serviços de saúde.

Atendendo à dimensão do estudo, as determinações analíticas não foram efetuadas num laboratório central. No entanto, em Portugal, os laboratórios de análises estão sujeitos a processos de certificação e controlo de qualidade, o que limita a variabilidade dos valores de referência e torna aceitável a comparação dos resultados.

Para o cálculo do risco de morte por causa cardiovascular em dez anos foi considerada apenas a população com idade superior a 40 anos, sem que fosse estabelecido limite superior de idade. Para o efeito, os indivíduos com idade superior a 65 anos foram avaliados pela aplicação das fórmulas de cálculo para a idade de 65 anos. Admite-se que esta opção metodológica poderá subestimar o risco cardiovascular efetivo no subgrupo dos indivíduos mais idosos, mas não comprometerá a interpretação global dos resultados.

Na avaliação da prevalência da medicação com terapêutica hipolipidemiante considerou-se que todos os doentes sob medicação eram elegíveis para a mesma. Com efeito, este estudo não pretendeu avaliar a adequação da decisão de instituição de terapêutica hipolipidemiante pelos médicos assistentes.

Conclusões

A prevalência de dislipidemia é elevada entre os utentes adultos dos cuidados de saúde primários em Portugal, detetando-se níveis aumentados de CT (≥200mg/dl) em 47%. Estes dados contribuirão para a melhor caracterização epidemiológica do risco cardiovascular na população portuguesa, imprescindível para o adequado planeamento das estratégias preventivas de saúde pública. Além disso, atualizam as estimativas de prevalência fornecidas pelos estudos prévios e fornecem a determinação das frequências por sexo e idade com base nos diferentes limiares diagnósticos.

Financiamento

O estudo Valsim recebeu o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, da Direcção Geral de Saúde, da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral e o patrocínio financeiro do Laboratório Novartis Farma.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Bibliografia
[1]
M. Correia, M.R. Silva, I. Matos, et al.
Prospective community-based study of stroke in Northern Portugal: Incidence and case fatality in rural and urban populations.
[2]
A.F. Goncalves, S.M. Cardoso.
The prevalence of cerebrovascular stroke in Coimbra.
Acta Med Port., 10 (1997), pp. 543-550
[3]
P. de Sá, J.A. Dias, J.M. Miguel.
The evolution of mortality from ischemic heart disease and cerebrovascular diseases in Portugal in the decade of the 80s.
Acta Med Port., 7 (1994), pp. 71-81
[4]
M. Mirzaei, A.S. Truswell, K. Arnett, et al.
Cerebrovascular disease in 48 countries: Secular trends in mortality.
J Neurol Neurosurg Psychiatry, 83 (2012), pp. 138-145
[5]
J. Stamler, M.L. Daviglus, D.B. Garside, et al.
Relationship of baseline serum cholesterol levels in 3 large cohorts of younger men to long-term coronary, cardiovascular, and all-cause mortality and to longevity.
JAMA., 284 (2000), pp. 311-318
[6]
M.J. Pencina, R.B. d’Agostino Sr., M.G. Larson, et al.
Predicting the 30-year risk of cardiovascular disease: The Framingham heart study.
Circulation., 119 (2009), pp. 3078-3084
[7]
M. Gouveia, M. Borges, J. Costa, et al.
Burden of disease from hypercholesterolemia in Portugal.
Rev Port Cardiol., 23 (2004), pp. 255-270
[8]
M. Gouveia, M. Borges, J. Costa, et al.
Costs of illness due to hypeercholesterolemia in Portugal.
Rev Port Cardiol., 23 (2004), pp. 1037-1054
[9]
A.M. Gotto Jr., E. Whitney, E.A. Stein, et al.
Relation between baseline and on-treatment lipid parameters and first acute major coronary events in the Air Force/Texas Coronary Atherosclerosis Prevention Study (AFCAPS/TexCAPS).
Circulation., 101 (2000), pp. 477-484
[10]
J. Shepherd, S.M. Cobbe, I. Ford, West of Scotland Coronary Prevention Study Group, et al.
Prevention of coronary heart disease with pravastatin in men with hypercholesterolemia.
N Engl J Med., 333 (1995), pp. 1301-1307
[11]
B. Dahlof, P.S. Sever, N.R. Poulter, et al.
Prevention of cardiovascular events with an antihypertensive regimen of amlodipine adding perindopril as required versus atenolol adding bendroflumethiazide as required, in the Anglo-Scandinavian Cardiac Outcomes Trial-Blood Pressure Lowering Arm (ASCOT-BPLA): A multicentre randomised controlled trial.
Lancet., 366 (2005), pp. 895-906
[12]
C. Baigent, A. Keech, P.M. Kearney, et al.
Efficacy and safety of cholesterol-lowering treatment: prospective meta-analysis of data from 90,056 participants in 14 randomised trials of statins.
Lancet., 366 (2005), pp. 1267-1278
[13]
R. de Caterina, M. Scarano, R. Marfisi, et al.
Cholesterol-lowering interventions and stroke: Insights from a meta-analysis of randomized controlled trials.
J Am Coll Cardiol., 55 (2010), pp. 198-211
[14]
A.L. Catapano, Z. Reiner, B.G. de Backer, et al.
ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias The Task Force for the management of dyslipidaemias of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Atherosclerosis Society (EAS).
Atherosclerosis., 217 (2011), pp. 3-46
[15]
National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III), Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection.
Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III) final report.
Circulation, 106 (2002), pp. 3143-3421
[16]
J. Genest, J. Frohlich, G. Fodor, et al.
Recommendations for the management of dyslipidemia and the prevention of cardiovascular disease: Summary of the 2003 update.
CMAJ., 169 (2003), pp. 921-924
[17]
L. Nunes, J. Pipa, C. Nascimento, et al.
Prevalence of several cardiovascular risk factors in a population in the municipality of Viseu.
Rev Port Cardiol., 16 (1997), pp. 703-707
[18]
V. Schneider, J. Cruz, D. Lopes, et al.
The prevalence of the principal cardiovascular risk factors in the population of the Azores.
Rev Port Cardiol., 14 (1995), pp. 1019-1027
[19]
P. von Hafe, C. Lopes, M.J. Maciel, et al.
The clustering of cardiovascular risk factors in the urban population of Porto.
Acta Med Port., 11 (1998), pp. 1059-1064
[20]
L.M. Santiago.
Incidence and prevalence of hypercholesterolemia in Portugal.
Rev Port Cardiol., 22 (2003), pp. 1283-1284
[21]
R.P. dos Reis, H.P. dos Reis.
Cardiovascular risk factors in the list of patients of a general practitioner.
Rev Port Cardiol., 9 (1990), pp. 607-612
[22]
J. Costa, M. Borges, E. Oliveira, et al.
Incidence and prevalence of hypercholesterolemia in Portugal: A systematic review. Part I.
Rev Port Cardiol., 22 (2003), pp. 569-577
[23]
J. Costa, M. Borges, E. Oliveira.
Incidence and prevalence of hypercholesterolemia in Portugal: A systemic review. Part II.
Rev Port Cardiol., 22 (2003), pp. 683-702
[24]
J. Costa, M. Borges, E. Oliveira, et al.
Incidence and prevalence of hypercholesterolemia in Portugal: A systematic review. Part III.
Rev Port Cardiol., 22 (2003), pp. 829-836
[25]
M. Fiuza, N. Cortez-Dias, S. Martins, et al.
Metabolic syndrome in Portugal: Prevalence and implications for cardiovascular risk--results from the VALSIM Study.
Rev Port Cardiol., 27 (2008), pp. 1495-1529
[26]
R.M. Conroy, K. Pyorala, A.P. Fitzgerald, et al.
Estimation of ten-year risk of fatal cardiovascular disease in Europe: The SCORE project.
Eur Heart J., 24 (2003), pp. 987-1003
[27]
I. do Carmo, O. dos Santos, J. Camolas, et al.
Overweight and obesity in Portugal: National prevalence in 2003-2005.
[28]
H.F. Carreira, M.F. Pereira, A.F. Azevedo, et al.
Trends of BMI and prevalence of overweight and obesity in Portugal (1995-2005): A systematic review.
Public Health Nutr., 15 (2012), pp. 972-981
[29]
L.B. Sardinha, D.A. Santos, A.M. Silva, et al.
Prevalence of overweight, obesity, and abdominal obesity in a representative sample of Portuguese adults.
[30]
G.F. Danaei, M.M. Finucane, J. Lin, et al.
National, regional, and global trends in systolic blood pressure since 1980: Systematic analysis of health examination surveys and epidemiological studies with 786 country-years and 5.4 million participants.
Lancet., 377 (2011), pp. 568-577
[31]
F.F. Farzadfar, M.M. Finucane, G. Danaei, et al.
National, regional, and global trends in serum total cholesterol since 1980: Systematic analysis of health examination surveys and epidemiological studies with 321 country-years and 3.0 million participants.
Lancet., 377 (2011), pp. 578-586
[32]
C.D. Gardner, M.A. Winkleby, S.P. Fortmann.
Population frequency distribution of non-high-density lipoprotein cholesterol (Third National Health and Nutrition Examination Survey [NHANES III], 1988-1994).
Am J Cardiol., 86 (2000), pp. 299-304
[33]
M.J. Medrano, E. Cerrato, R. Boix, et al.
Cardiovascular risk factors in Spanish population: Metaanalysis of cross-sectional studies.
Med Clin (Barc)., 124 (2005), pp. 606-612
[34]
O.F. Vegazo, J.R. Banegas, F. Civeira, et al.
Prevalence of dyslipidemia in outpatients of the Spanish health service: The HISPALIPID Study.
Med Clin (Barc)., 127 (2006), pp. 331-334
[35]
I.J. Teixeira, A. Escoval, M. Schiappa.
Lipid-lowering drugs: Use and expenditure in Portugal (1995-2004).
Rev Port Cardiol., 26 (2007), pp. 475-493
Copyright © 2013. Sociedade Portuguesa de Cardiologia
Baixar PDF
Idiomas
Revista Portuguesa de Cardiologia
Opções de artigo
Ferramentas
en pt

Are you a health professional able to prescribe or dispense drugs?

Você é um profissional de saúde habilitado a prescrever ou dispensar medicamentos

Ao assinalar que é «Profissional de Saúde», declara conhecer e aceitar que a responsável pelo tratamento dos dados pessoais dos utilizadores da página de internet da Revista Portuguesa de Cardiologia (RPC), é esta entidade, com sede no Campo Grande, n.º 28, 13.º, 1700-093 Lisboa, com os telefones 217 970 685 e 217 817 630, fax 217 931 095 e com o endereço de correio eletrónico revista@spc.pt. Declaro para todos os fins, que assumo inteira responsabilidade pela veracidade e exatidão da afirmação aqui fornecida.