Homem, 58 anos, imunocompetente, antecedentes pessoais de úlcera péptica e hipotensão ortostática. Referenciado para internamento por cardiologista assistente. Tinha iniciado um mês antes dor torácica pleurítica, febre (máximo de 38,5°C), anorexia e derrame pericárdico (12mm). Realizara seis dias de ácido acetilsalicílico (1g 6/6h) por possível pericardite, sem melhoria. Na admissão hospitalar destacavam‐se ainda ortopneia com hipoxemia (pO2=59,5mmHg, em ar ambiente), derrame pleural bilateral (exsudado com predomínio de células linfocitárias), anemia normocitica normocrómica (hemoglobina=11,5g/dL), PCR=19,2mg/dL e VS=120mm/h. O eletrocardiograma evidenciava ritmo sinusal e diminuição difusa da voltagem. Internado para esclarecimento do quadro foi instituída terapêutica de suporte com paracetamol em caso de febre, oxigénio suplementar e cinesioterapia respiratória. Dois dias depois novo ecocardiograma revelou filamentos de fibrina organizados em «teia de aranha» (Figura 1). Foi submetido a pericardiocentese; a biópsia mostrou infiltrado inflamatório e fibrina (Figura 2). As serologias foram positivas para parvovírus B19: IgM=6,04Ua/mL (<1,0) e IgG=4,41Ua/mL (<1,0). As restantes serologias, culturas de sangue, urina e líquido pleural, bem como os marcadores de autoimunidade foram negativos. Teve alta ao 28.° dia de internamento com melhoria completa do quadro clínico, radiológico e analítico. No follow up a três anos, o doente permanece sem sinais de patologia do foro oncológico, infecioso ou autoimune.
Amostra histológica a) pericardite fibrinosa (hematoxilina‐eosina x100); b) Líquido pericárdico hemático com citologia negativa para malignidade (hematoxilina‐eosina x100); c) pericárdio com células mesoteliais com hiperplasia/atipia (calretinina x100); d) infiltrado inflamatório com numerosos macrófagos (CD 68x100).
A infeção por parvovírus B19 é comum. Nos adultos é, na maioria das vezes, assintomática. É uma causa conhecida de pericardite, no entanto, é raro atingir uma gravidade significativa em doentes imunocompetentes.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram ter seguido os protocolos de seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes e que todos os pacientes incluídos no estudo receberam informações suficientes e deram o seu consentimento informado por escrito para participar nesse estudo.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.
Os autores agradecem a todos os elementos do Serviço de Cardiologia do Hospital Dr. José de Almeida, especialmente à técnica Élia Baptista, pela sua colaboração na preparação das imagens de ecocardiograma. Uma palavra ainda para a Dra. Ana Paula Martins (Departamento de Anatomia Patológica do Hospital de Santa Cruz) pela análise histológica das biópsias epicárdicas e pericárdicas.