A gordura epicárdica produz, tipicamente, uma imagem relativamente hipoecogénica no ecocardiograma transtorácico (ecoTT), podendo ser hiperecogénica quando muito espessa. A lipomatose epicárdica (LIE) caracteriza‐se por um maior desenvolvimento desta camada de tecido adiposo devido à hiperplasia dos adipócitos. O seu aspeto ecocardiográfico pode conduzir a diagnósticos errados pela semelhança com outras patologias. A ressonância magnética cardíaca (RMC) possibilita a identificação correta desta entidade. Apresentamos um caso clínico ilustrativo da importância da RMC no diagnóstico de LIE.
Doente do sexo feminino, 79 anos, referenciada para cirurgia cardíaca emergente por enfarte do miocárdio de tempo indeterminado, com suspeita ecocardiográfica de rotura da parede livre do ventrículo esquerdo (VE).
À admissão, repetiu ecoTT que revelou derrame pericárdico circunferencial de médio volume, com imagem hiperecogénica adjacente ao ápex do VE, estendendo‐se pelas paredes posterior e lateral, compatível com fibrina ou trombo, sem extravasamento de contraste para o espaço pericárdico (Figura 1). O cateterismo cardíaco mostrou coronárias angiograficamente normais. Realizou RMC que confirmou o derrame pericárdico de médio volume e revelou depressão ligeira a moderada da função sistólica do VE, com acinésia e realce tardio transmural nos segmentos médio e basais da parede lateral, bem como acentuada LIE, correspondendo à imagem de suspeita de trombo/fibrina no ecoTT (Figuras 2 e 3).
Com esta informação, que excluiu a hipótese inicial, optou‐se por terapêutica conservadora. A paciente evoluiu favoravelmente, tendo alta ao fim de 15 dias, com o diagnóstico de enfarte do miocárdio lateral com coronárias angiograficamente normais.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.