Este caso remete‐se a uma doente de 65 anos trazida ao hospital pela emergência médica por quadro de dor torácica constritiva com uma hora de evolução. O eletrocardiograma pré‐hospitalar mostrava elevação do segmento ST nas derivações inferiores (Figura 1A). Na admissão a doente já se encontrava assintomática e o eletrocardiograma mostrava resolução das alterações descritas. Foram observados na telemetria períodos intermitentes de elevação de ST assintomáticos, enquanto a doente era preparada para cateterismo urgente. Neste visualizou‐se um stop de contraste no ostium da artéria coronária direita que condicionava elevados gradientes intracoronários durante a angiografia seletiva da mesma (Figura 1B). Inicialmente colocou‐se a hipótese de se tratar de uma possível disseção, sendo implantados dois stents. Ainda no dia da admissão foi realizado um ecocardiograma que alterou completamente a perspetiva do caso, tendo sido posteriormente realizado ecocardiograma transesofágico para sua melhor caracterização: foi observada acinesia da parede inferior e uma estrutura móvel (1,4 por 0,9cm), pediculada, entre o seio coronário direito e o não coronariano, sem comprometer o normal funcionamento valvular, mas com obstrução intermitente parcial do stent (Figuras 1C, D e E). Na ressonância magnética esta estrutura apresentava realce com gadolínio. A doente foi submetida a exérese da massa ao fim de poucos dias, sendo o resultado histológico compatível com fibroelastoma papilar cardíaco, uma das hipóteses de diagnóstico postuladas durante a investigação.
Imagens de exames complementares realizados no decurso da investigação deste caso. A: eletrocardiograma inicial mostrando elevação do segmento ST nas derivações inferiores; B: imagem da angiografia da coronária direita (CD) mostrando um stop de contraste a nível ostial (assinalado com seta); C e D: imagens de ecocardiografia transesofágica do tumor (assinalado com setas descontínuas) mostrando a sua localização e relação com o stent (setas contínuas) implantado na CD; E: imagem ecocardiográfica tridimensional (3D) do tumor obtida por ecocardiografia transesofágica (seta descontínua).
O ecocardiograma à cabeceira do doente é uma ferramenta acessível, podendo alterar por completo a abordagem diagnóstica e terapêutica nalguns casos como poderia ter sido o deste em questão.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.