Informação da revista
Vol. 31. Núm. 11.
Páginas 721-730 (Novembro 2012)
Visitas
18673
Vol. 31. Núm. 11.
Páginas 721-730 (Novembro 2012)
Artigo de revisão
Open Access
Diagnóstico, prevenção e tratamento da doença vascular do aloenxerto
Diagnosis, prevention and treatment of cardiac allograft vasculopathy
Visitas
18673
Rita Calé
Autor para correspondência
ritacale@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Maria José Rebocho, Carlos Aguiar, Manuel Almeida, João Queiroz e Melo, José Aniceto Silva
Departamento de Cardiologia e Cirurgia Cardiotorácica, Hospital Santa Cruz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Tabelas (2)
Tabela 1. Diferenças entre a DVA e a doença coronária aterosclerótica
Tabela 2. Nomenclatura recomendada para a vasculopatia do aloenxerto
Mostrar maisMostrar menos
Resumo

A principal limitação da sobrevida a longo prazo após-transplante cardíaco é a doença vascular do aloenxerto que consiste na hiperplasia concêntrica e difusa da íntima arterial. A doença continua a ter uma incidência significativa estimada em 30% aos 5 anos pós-transplante cardíaco. Por ser uma doença clinicamente silenciosa, o seu diagnóstico é um desafio. A angiografia coronária complementada pela ecografia intravascular é o método de diagnóstico mais sensível. No entanto, novas técnicas de diagnóstico não invasivas podem vir a ter relevância clínica no futuro. O seu diagnóstico, o mais precocemente possível, é essencial de forma a permitir atrasar a progressão da doença a fim de melhorar o seu prognóstico. Em Julho de 2010, foi publicada uma nova nomenclatura recomendada para a vasculopatia do aloenxerto, elaborada pela Internacional Society for Heart and Lung Transplantation (ISHLT) e que permite uma uniformização da definição. Em simultâneo, foram publicadas as novas recomendações da ISHLT que procuram uma uniformização no diagnóstico e no manejo destes doentes. Este artigo faz uma revisão dos conceitos atuais da fisiopatologia, diagnóstico, prevenção e tratamento da vasculopatia do aloenxerto, realçando áreas em investigação.

Palavras-chave:
Transplante cardíaco
Vasculopatia do aloenxerto
Ecografia intracoronária
Microcirculação
Abstract

The major limitation of long-term survival after cardiac transplantation is allograft vasculopathy, which consists of concentric and diffuse intimal hyperplasia. The disease still has a significant incidence, estimated at 30% five years after cardiac transplantation. It is a clinically silent disease and so diagnosis is a challenge. Coronary angiography supplemented by intravascular ultrasound is the most sensitive diagnostic method. However, new non-invasive diagnostic techniques are likely to be clinically relevant in the future. The earliest possible diagnosis is essential to prevent progression of the disease and to improve its prognosis. A new nomenclature for allograft vasculopathy has been published in July 2010, developed by the International Society for Heart and Lung Transplantation (ISHLT), establishing a standardized definition. Simultaneously, the ISHLT published new guidelines standardizing the diagnosis and management of cardiac transplant patients. This paper reviews contemporary concepts in the pathophysiology, diagnosis, prevention and treatment of allograft vasculopathy, highlighting areas that are the subject of ongoing research.

Keywords:
Heart transplantation
Cardiac allograft vasculopathy
Intravascular ultrasound
Microcirculation
Texto Completo
Introdução

Apesar de atualmente termos ao nosso dispor uma grande variedade de terapêuticas farmacológicas e de intervenções eletrofisiológicas, como os dispositivos de ressincronização, a transplantação cardíaca continua a ser o tratamento gold standard para doentes com insuficiência cardíaca avançada refratários à terapêutica médica. O registo da Internacional Society for Heart and Lung Transplantation (ISHLT) reporta, desde 1983 até 2010, a realização de 89 000 transplantes cardíacos, estimando que, atualmente, o número de transplantados cardíacos em todo o mundo possa ultrapassar os 5 000 por ano1. Em Portugal o primeiro transplante cardíaco foi realizado em 19862–4. Segundo dados da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação, nos últimos anos Portugal registou um progressivo aumento do número de transplantes cardíacos realizados, perfazendo um total de 558 doentes tratados até ao ano 20105 (ver Fig. 1). A sobrevida média após transplantação cardíaca aumentou progressivamente de 8,3 anos na década de 1980 para 10,4 anos na década de 1990, e cerca de 13 anos na atualidade. Esta melhoria reflete a diminuição da mortalidade no período precoce pós-transplante cardíaco, facto que pode ser devido a inúmeros fatores, entre eles, uma melhoria dos critérios de seleção do recetor e dador, melhor preservação do coração do dador e introdução da ciclosporina no início dos anos 1980, que veio revolucionar a terapêutica imunossupressora e a rejeição aguda do aloenxerto6. Pelo contrário, a mortalidade a longo prazo após o 1.° ano de transplantação cardíaca tem-se mantido relativamente constante e superior à população geral (3 a 4% por ano)1. Um dos grandes fatores limitativos da sobrevida a longo prazo após transplantação cardíaca continua a ser o desenvolvimento da doença vascular do aloenxerto (DVA) cardíaco7. Esta entidade, que é uma forma acelerada de doença coronária que se caracteriza por um progressivo espessamento da íntima arterial, é muito prevalente (8% a um ano, 20% a 3 anos, 30% aos 5 anos e mais de 50% aos 10 anos) e resulta numa significativa morbilidade e mortalidade1. De forma a uniformizar a definição da vasculopatia do aloenxerto (VA), foi publicado em Julho de 2010 um documento de consenso comissariado pela ISHLT7. Em simultâneo, foram elaboradas pela ISHLT as novas recomendações no tratamento do doente transplantado cardíaco (Guidelines for the care of heart transplant recipients), que incluem o manejo da DVA (Task force 3)8. Ambos os documentos procuram uma maior equidade no diagnóstico precoce desta doença para que sejam implementadas medidas de tratamento e prevenção adequadas. Este artigo faz uma revisão dos conceitos atuais de fisiopatologia, diagnóstico, prevenção e tratamento da VA, realçando áreas em investigação.

Figura 1.

Evolução da transplantação cardíaca em Portugal. O total de transplantes cardíacos até 2010 foi de 558 doentes.

(0,16MB).
Fisiopatologia

As características patológicas da DVA diferem significativamente da doença coronária aterosclerótica típica (Tabela 1). A DVA consiste na proliferação concêntrica da íntima arterial que resulta no seu espessamento e no remodeling patológico, que, em conjunto, contribuem para um progressivo estreitamento do lúmen arterial9. Esta forma de vasculopatia caracteriza-se por um envolvimento preferencial de pequenas e médias artérias de um modo difuso e concêntrico10–11. Os vasos intramiocárdicos, assim como as veias, são frequentemente envolvidos, raramente há depósitos de cálcio, a lâmina elástica interna permanece intacta e pode ocorrer inflamação com aumento da espessura da íntima por células inflamatórias mononucleares infiltradas12. No entanto, numa fase muito precoce após-transplante podem ser detetadas placas excêntricas transmitidas pelo dador. Do mesmo modo, numa fase tardia pós-transplante podem ser visualizadas placas ateroscleróticas típicas que se misturam com o espessamento difuso da íntima, próprio da DVA13,14. Na Figura 2 podem ser visualizados por ecografia intracoronária 2 tipos diferentes de placas num mesmo doente transplantado há cinco anos com angiografia coronária atual, aparentemente normal.

Tabela 1.

Diferenças entre a DVA e a doença coronária aterosclerótica

Característica  Vasculopatia do aloenxerto  Doença coronária aterosclerótica 
Localização  Vasos epicárdicos distais e intramiocárdicos  Vasos epicárdicos proximais 
Tipo de placa  Difusa, concêntrica  Focal, excêntrica 
Inflamação  Sim  Raramente 
Vasculite  Infrequente  Nunca 
Lâmina elástica interna  Intacta  Disrupta 
Depósito de cálcio  Não  Sim 
Figura 2.

Imagens de ecografia intracoronária da descendente anterior referentes a um doente transplantado cardíaco há 5 anos que apresentou simultaneamente o espessamento concêntrico da íntima típico da DVA (C) e uma placa excêntrica típica da doença coronária aterosclerótica clássica (D). A angiografia coronária não foi sugestiva de doença na artéria descendente anterior (A e B).

(0,37MB).

A VA é uma doença complexa com múltiplas etiologias possíveis e que incluem fatores imunológicos e não imunológicos15. Assim, a doença vascular acelerada do aloenxerto é o resultado de uma resposta inflamatória local e sistémica contínua com a consequente lesão do endotélio vascular repetitiva e que é iniciada por fatores dependentes do aloantigénio e por fatores de stress não imunológicos16,17. Num trabalho de Raichlin et al.16, a presença de artérias coronárias com placas inflamatórias (core necrótico e pontos de calcificação densa) detetadas por ecografia intracoronária com histologia virtual, estiveram associadas a rejeição recorrente precoce com a subsequente progressão para VA. Este estudo confirmou a associação entre a rejeição celular recorrente precoce e o desenvolvimento de placas inflamatórias suportando a base imunológica para o processo inflamatório. Adicionalmente, realçou a importância da inflamação local em todo o processo de disfunção endotelial. Muitos outros estudos recentes têm mostrado que a inflamação sistémica também contribui para o desenvolvimento desta forma de vasculopatia acelerada. A Proteína C Reactiva (PCR) de alta sensibilidade, que é um dos marcadores mais sensíveis de inflamação sistémica, está frequentemente elevada nos doentes que desenvolvem DVA e é preditora de rejeição tardia17–21. Alguns autores sugerem que a disfunção endotelial pode representar uma fase precoce e potencialmente reversível da VA22–23. A perturbação da produção de óxido nítrico endotelial e o aumento da produção de endotelina parecem favorecer o desenvolvimento de aterogénese ao induzirem vasoconstrição24–25.

Em relação aos potenciais fatores imunológicos, sabe-se que as células endoteliais expressam antigéneos das classes I e II do complexo de histocompatibilidade major (HLA) que constituem os alvos da resposta imune humoral e mediada por células15,26. Os linfócitos T ativados secretam citoquinas (interleucinas, interferão e fator de necrose tumoral), que são responsáveis por recrutar monócitos ativados e macrófagos e estimular a produção de moléculas de adesão pelo endotélio27. Os macrófagos recrutados pelo endotélio produzem citoquinas e fatores de crescimento que conduzem à proliferação de células musculares lisas e síntese de matrix extracelular28. São também encontrados anticorpos circulantes anti-HLA e contra o endotélio do doador num número significativo de transplantados cardíacos, sendo que a sua presença está associada a pior prognóstico, reforçando a hipótese de que a resposta imuno-humoral também pode ter um papel na patogénese da VA29–32.

Os fatores de risco não imunológicos identificáveis incluem a idade do dador e do recetor1, a causa de morte cerebral33, a lesão de isquémia e reperfusão34, infeções virais35–36 e distúrbios metabólicos37. A presença de aterosclerose coronária no coração do dador não contribui para uma mais rápida progressão da hiperplasia da íntima e não parece afetar a sobrevida a longo prazo do recetor, num estudo publicado previamente com um seguimento por ecografia intravascular a três anos38. Os fatores de risco cardiovasculares clássicos como a hipertensão, a dislipidemia e a diabetes são frequentemente mais prevalentes na população de transplantados cardíacos do que na população geral, em grande parte resultado da terapêutica imunossupressora necessária para evitar a rejeição de órgão39. De facto, a dislipidemia e a resistência à insulina são os fatores não imunológicos que mais contribuem para o desenvolvimento da vasculopatia, porque são muito prevalentes (ocorrem em cerca de 50-80% da população de transplantados cardíacos)37,40.

DiagnósticoAngiografia

O diagnóstico da DVA continua a ser um desafio para o clínico. Por ser uma doença que é clinicamente silenciosa, devido à desenervação do aloenxerto, eventos cardiovasculares major, como enfarte do miocárdio, insuficiência cardíaca ou morte súbita, podem ocorrer sem pródromos de angina41. O facto de ser uma vasculopatia com atingimento dos vasos de forma difusa dificulta a utilização de métodos não invasivos, que se baseiam na deteção de lesões coronárias com obstruções limitativas de fluxo para o seu diagnóstico precoce42. Em muitos centros de transplante cardíaco, a angiografia coronária é o método usado para o diagnóstico de DVA. O estudo de Costanzo43 foi um estudo de grandes dimensões que incluiu 5 693 doentes de vários centros submetidos a rastreio da VA por coronariografia clássica. A doença coronária esteve presente em 42% dos doentes após cinco anos de transplante cardíaco. Nos doentes com vasculopatia documentada como grave, 50% morreram ou foram retransplantados. O esquema de classificação para a VA usado neste estudo mostrou utilidade na discriminação do prognóstico e, por isso, foi adaptado para a elaboração da nova definição da VA, publicada num documento de consenso comissariado pela ISHLT7 (Tabela 2).

Tabela 2.

Nomenclatura recomendada para a vasculopatia do aloenxerto

ISHLT CAV0 (Não significativa)  Sem lesão angiográfica detetável 
ISHLT CAV1 (Ligeira)  Tronco comum com estenose angiográfica < 50%, vaso principal < 70% ou estenose de qualquer vaso secundário < 70%, sem disfunção do aloenxerto 
ISHLT CAV2 (Moderada)  Tronco comum com estenose ≥ 50%; vaso principal com estenose isolada ≥70% ou estenose de vaso secundário ≥ 70% em ramos de 2 territórios arteriais, sem disfunção do aloenxerto 
ISHLT CAV3 (Grave)  Tronco comum com estenose ≥ 50%, ou 2 ou mais vasos principais com estenose ≥ 70% ou estenose de vaso secundário ≥ 70% nos 3 territórios arteriais; ou ISHLT CAV1 ou CAV2 com disfunção do aloenxerto (definida como fração de ejeção ventricular esquerda ≤ 45% habitualmente na presença de alterações segmentares) ou evidência de fisiologia restritiva 

Fonte:7.

Fisiologia cardíaca restritiva: insuficiência cardíaca sintomática com padrão ecocardiográfico restritivo (E/A > 2, tempo de relaxamento isovolumétrico < 60 mseg, tempo de desaceleração < 150 mseg) ou padrão hemodinâmico restritivo (pressão aurícula direita > 12mmHg, pressão capilar pulmonar > 25mmHg, índice cardíaco <2l/min/m2); Vaso secundário: 1/3 do segmento distal da artéria descendente anterior, diagonais, obtusas marginais ou qualquer segmento de uma artéria coronária direita não dominante; Vaso principal: artéria descendente anterior proximal até 1/3 do segmento médio; artéria circunflexa, ramo intermediário e artéria coronária direita dominante ou codominante e inclui a descendente posterior e ramos póstero-laterais.

Ecografia intravascular

Embora a angiografia seja o método de rastreio anual proposto, a sua sensibilidade na deteção da doença coronária do enxerto cardíaco é baixa (apresenta um valor preditivo positivo de apenas 44% quando comparada com a ecografia intravascular (IVUS) considerada o gold standard)44,45. A angiografia clássica não permite avaliar a parede arterial e, o remodeling vascular que ocorre com o desenvolvimento da vasculopatia pode obscurecer a sua deteção pela angiografia46. Para ultrapassar estas limitações, temos ao dispor a ecografia intravascular que é atualmente reconhecida como o método diagnóstico mais sensível para a deteção precoce da VA47. A avaliação da espessura máxima da íntima deve ser avaliada por pullback automático num ou mais vasos epicárdicos ao longo de um segmento de 40 a 50mm7. De realçar que um espessamento da íntima arterial > 0,5mm no primeiro ano pós-transplante cardíaco constitui um marcador de risco de eventos cardiovasculares major não fatais e mortalidade e prediz o desenvolvimento de VA nos cinco anos seguintes41,48. Deste modo, a ecografia intravascular poderia ser usada para avaliar o risco de desenvolver a doença, definir o prognóstico e orientar a terapêutica, mas esta indicação não está ainda consolidada7. De acordo com as recomendações atuais da ISHLT8, a coronariografia clássica deve ser realizada com uma periodicidade anual ou bianual, de forma a monitorizar o desenvolvimento da DVA. Os transplantados cardíacos que não desenvolvem vasculopatia nos primeiros três a cinco anos podem ser selecionados para uma avaliação invasiva menos frequente, principalmente se tiverem insuficiência renal. A ecografia intravascular realizada quatro a seis semanas após-transplante cardíaco pode ser útil quando há suspeita de doença coronária no dador (idade > 35 anos), mas é obviada na maior parte dos centros. A ecografia intravascular no primeiro ano pós-transplante cardíaco é de extrema utilidade e pode ser uma opção, uma vez que permite a deteção da DVA rapidamente progressiva e fornece informação prognóstica. Se o transplantado cardíaco for submetido a angioplastia percutânea, recomenda-se o seguimento por coronariografia após seis meses devido à alta taxa de reestenose neste contexto8.

Avaliação da função endotelial e microvascular

A DVA pode atingir não só a circulação epicárdica como a microcirculação e, por isso, têm sido desenvolvidos testes de avaliação da função microvascular, nomeadamente, a avaliação da reserva coronária49 e das resistências microvasculares50 por termodiluição. O estudo PITA49 mostrou, por um lado, que o flow fractional reserve (FFR) avaliado através de um fio de pressão ligado a um transdutor se correlaciona com os achados da ecografia intravascular, sugerindo que as alterações difusas da árvore coronária podem estar associadas a alterações funcionais, e por outro, que a medição da reserva de fluxo coronário (CFR) por termodiluição é um método de avaliação simples que pode acrescentar informações acerca do atingimento do compartimento microvascular nos doentes que apresentam coronárias angiograficamente normais. Estudos recentemente publicados na literatura mostraram haver uma boa correlação entre a doença microvascular e o prognóstico51,52.

Métodos de diagnóstico não invasivos

Ao longo dos anos, os métodos de diagnóstico não invasivos, nomeadamente a cintigrafia de perfusão miocárdica, a ecocardiografia de sobrecarga com dobutamina e, mais recentemente, a angiografia por tomografia computorizada e por ressonância magnética cardíaca, têm procurado conquistar um papel na avaliação da DVA. Eles podem ser úteis na deteção da doença em recetores de transplante cardíaco impossibilitados de realizar estudo invasivo e podem ser métodos atrativos para a monitorização da doença em idade pediátrica, na qual se pretende evitar a realização sistemática de métodos invasivos, embora a sua prática não esteja ainda completamente estabelecida8.

Num estudo publicado no ano 2000, foi sugerido que a cintigrafia de perfusão miocárdica pudesse ter um papel no screening anual dos doentes transplantados cardíacos, dado o seu elevado valor preditivo negativo para excluir lesões coronárias graves com necessidade de revascularização53. Mais tarde, Wu et al. confirmaram elevado valor preditivo negativo (96%) da cintigrafia com sobrecarga de dobutamina para exclusão de doença coronária significativa54. E, embora este exame apresente uma baixa sensibilidade para a deteção precoce da DVA, alguns autores mostraram ter valor prognóstico55,56.

A realização de ecocardiograma transtorácico de forma seriada é recomendável de forma a detetar uma possível deterioração progressiva da função ventricular esquerda ou disfunção diastólica tipo restritivo como resultado de isquémia miocárdica silenciosa7.

O primeiro estudo que comparou a ecocardiografia de sobrecarga com dobutamina com a ecografia intravascular incluiu 109 transplantados cardíacos e mostrou que a ecocardiografia de sobrecarga consegue identificar a presença de vasculopatia com uma sensibilidade de 72% e identificar os doentes com pior prognóstico com um valor preditivo elevado, comparável à ecografia intracoronária e angiografia57. Outros autores mostraram também a importância do valor prognóstico desta modalidade de imagem58,59. Mais recentemente, alguns estudos mostraram o valor incremental dos novos parâmetros quantitativos da ecocardiografia, como o Doppler tissular e parâmetros de deformação sistólica, na deteção mais sensível e precoce da doença vascular do transplantado cardíaco60,61. A ecocardiografia mostrou ainda ter potencial na avaliação da microcirculação através da quantificação do fluxo de reserva coronário por ecocardiografia com contraste62–64. A diminuição da reserva de fluxo coronária é um marcador precoce de VA e relaciona-se com a ocorrência de eventos cardiovasculares major65.

Estudos recentes sugeriram que a angiografia por tomografia computorizada com um detetor de 64 cortes pode ser superior à angiografia convencional por cateter ao identificar doença vascular não obstrutiva que pode não ser reconhecida na coronariografia isolada66. Quando comparada com a ecografia intravascular, a angiografia por tomografia computorizada mostrou apresentar uma elevada especificidade (92%) e um aceitável valor preditivo negativo (77%) para a deteção da VA67, podendo vir a ter, no futuro, um papel na monitorização da doença. Embora as frequências cardíacas elevadas que os transplantados cardíacos frequentemente apresentam possa ser uma limitação da qualidade técnica do estudo, Schepis et al. mostraram que a tomografia computorizada com dupla ampola de raios x(dual source) é um exame não invasivo que pode apresentar uma boa acuidade diagnóstica para a VA. Efetuaram a comparação desta modalidade de imagem com a ecografia intravascular em 30 transplantados cardíacos com uma frequência cardíaca média de 80±14 batimentos, e obteve uma especificidade (84%) e um valor preditivo negativo (91%) elevados68.

A angiografia coronária por ressonância magnética cardíaca é uma modalidade de imagem atrativa por ser não invasiva e não requerer o uso de contraste nefrotóxico ou exposição a radiação, mas apresenta ainda uma baixa sensibilidade para a deteção de VA para poder ser usada como método de rastreio69.

Biopsia endomiocárdica

Os achados da biopsia endomiocárdica têm uma sensibilidade limitada no reconhecimento de vasculopatia, porque as amostras são apenas de pequenas artérias intramiocárdicas e arteríolas onde as lesões típicas de proliferação da íntima (Fig. 3) não são habitualmente visíveis nos primeiros anos pós-transplante28.

Figura 3.

Imagens histológicas de lesões típicas da DVA com proliferação concêntrica da íntima (A e B). Na figura C é possível observar a presença de numerosas células inflamatórias na lesão.

(0,7MB).
Biomarcadores

No campo da investigação têm surgido inúmeros marcadores baseados na imunologia (p. ex. anticorpos antivimentina70 e anti-HLA32), na genética71 e em proteínas (p. ex. proteína C reativa21, péptido natriurético tipo B72, troponina i73, fator de von Willebrand74) que se procuram afirmar como marcadores de risco de desenvolver a DVA. No entanto, eles ainda não estão incluídos na prática clínica atual como parâmetros para definir a gravidade da doença, porque existem diversos métodos para o seu doseamento que não se encontram estandardizados, com diferentes sensibilidades e especificidades, e não são ainda reprodutíveis entre os diferentes laboratórios7.

Em resumo, os exames de diagnóstico não invasivos, em particular, a angiografia por tomografia computorizada, podem vir a ter um papel na exclusão de DVA significativa, embora com uma menor sensibilidade do que a ecografia intracoronária. O ecocardiograma de sobrecarga com dobutamina pode ser usado para estimar o prognóstico. No futuro, os métodos de imagem não invasivos podem vir a substituir a coronariografia como métodos de screening, reservando a coronariografia com ecografia intravascular para os doentes de alto risco ou para aqueles com resultados equívocos ou positivos nos métodos não invasivos7.

Prevenção

O tratamento da DVA já completamente estabelecida continua muito limitado devido à natureza obliterativa difusa do processo. E, por isso, são necessários esforços na prevenção da doença, que deve ser iniciada o mais precocemente possível, uma vez que o espessamento da íntima arterial pode ocorrer logo no primeiro ano pós-transplante cardíaco75. Antes do transplante, as medidas preventivas incluem prevenção da lesão endotelial, reduzindo o tempo de isquémia, melhorando a preservação e transporte do enxerto. Após o transplante, a prevenção primária deve incluir a otimização da terapêutica imunossupressora, o controlo apertado dos fatores de risco cardiovasculares comuns (hipertensão, dislipidemia, diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo), assim como estratégias para prevenir a infeção pelo citomegalovírus8.

A hipertensão arterial, a dislipidemia e a diabetes são, na verdade, comorbilidades muito prevalentes na população de transplantados cardíacos, que frequentemente resultam ou são agravadas pela terapêutica imunossupressora em curso1.

A hipertensão tem uma incidência de 76 e 90% a um a cinco anos, respetivamente1. A terapêutica com a ciclosporina, por efeitos diretos e por induzir nefrotoxicidade, é dos principais fatores que aumentam o risco de hipertensão76. O uso de corticoesteroides também pode contribuir para o seu desenvolvimento ou agravamento. Quanto ao tratamento, não existem grandes estudos aleatorizados a mostrar superioridade de uns anti-hipertensores em relação a outros nesta população. Em muitas ocasiões, por ser uma hipertensão de difícil controlo, é necessária a associação entre dois ou mais fármacos anti-hipertensores, nomeadamente, entre os antagonistas do canal de cálcio e os inibidores da enzima de conversão da angiotensina ou antagonistas dos recetores de angiotensina8. A restrição de sal da dieta, a perda de peso e o exercício são adjuvantes da terapêutica que facilitam o controlo da pressão arterial nesta população8,76.

A dislipidemia tem uma incidência de 74% no primeiro ano e 91% ao quinto ano1. Dois estudos aleatorizados que compararam a pravastatina77 ou a sinvastatina78 com placebo nos doentes transplantados cardíacos mostraram o benefício das estatinas na redução da incidência de DVA e na melhoria do prognóstico a longo prazo. Estudos prévios sugerem que o benefício das estatinas pode não estar apenas relacionado com a redução dos níveis de colesterol, mas também com o seu efeito imunossupressor79. E, como tal, o uso de estatinas deve ser considerado em todos os doentes, independentemente do perfil lípidico8.

A diabetes mellitus afeta 39% dos transplantados cardíacos nos primeiros cinco anos1. A terapêutica com inibidores da calcineurina, nomeadamente o tacrolimus80 e glucocorticóides81, contribui para a elevada prevalência de diabetes. Outros fatores de risco incluem a intolerância à glucose oral pré-transplante, história familiar de diabetes e a obesidade82. De acordo com as recomendações atuais, deve optar-se, sempre que possível, por regimes livres de corticoesteroides e com doses mais baixas de inibidores da calcineurina; deve ser realizada uma monitorização periódica da glucose em jejum, testes de tolerância à glucose oral e determinações da HbA1C, sempre que apropriado; e o tratamento da diabetes já estabelecida no doente transplantado cardíaco não deve diferir do da população geral8.

De forma integrada no programa de modificação dos fatores de risco, deve ser incentivada a participação em programas de reabilitação cardíaca que incluam não só um componente de treino aeróbio mas também de resistência8,83,84.

Quando existe infeção, a citomegalovírus, o tratamento antiviral (ganciclovir/valganciclovir) parece reduzir a progressão da doença vascular do aloenxerto12. Por outro lado, o papel da profilaxia da infeção por citomegalovírus na prevenção da vasculopatia não está completamente definido8.

Quanto à terapêutica imunossupressora, na fase imediata pós-transplante, os doentes iniciam habitualmente terapêutica tripla que inclui um inibidor da calcineurina (tacrolimus ou ciclosporina) associado a azatioprina ou a micofenolato de mofetil, em adição a corticoesteroides8. A evidência sugere que há benefício na redução das doses dos inibidores da calcineurina, sempre que possível, uma vez que esta terapêutica está associada a um potencial risco de nefrotoxicidade, a efeitos adversos metabólicos e a disfunção endotelial, podendo contribuir para a progressão da vasculopatia no transplantado cardíaco85.

Outros fármacos têm sido sugeridos como protetores da progressão da VA, nomeadamente o imunossupressor micofenolato mofetil usado em combinação com um inibidor da calcineurina, que, quando comparado com a azatioprina, mostrou uma redução do espessamento da íntima no primeiro ano pós-transplante cardíaco, que se traduziu numa diminuição da mortalidade e do retransplante aos 36 meses86.

O uso do everolimus87 e do sirolimus88, com propriedades antiproliferativas, mostraram reduzir a gravidade e a incidência de VA, aos 12 e 24 meses respetivamente, quando comparados com a azatioprina. E, por isso, as recomendações atuais consideram que, na DVA já estabelecida, pode ser considerada a substituição da azatioprina ou do micofenolato mofetil por um destes dois fármacos8. A maior parte dos centros não utiliza estes fármacos na fase aguda pós-transplante porque, pelas suas propriedades antiproliferativas, podem atrasar a cicatrização da ferida operatória.

O manejo adequado da terapêutica imunossupressora pode ser essencial na fase precoce de desenvolvimento da DVA, porque alguns estudos sugerem poder parar a progressão ou mesmo provocar uma regressão da vasculopatia88,89.

Tratamento

Assim que a DVA se encontra completamente estabelecida, a revascularização por intervenção percutânea ou a cirurgia são opções viáveis; no entanto, são consideradas terapêuticas paliativas, porque não alteram a progressão da doença, a necessidade de reintervenção ou a sobrevida global90–92. A angioplastia coronária é normalmente o tratamento de escolha para estenoses graves focais. Pode ser realizada com uma elevada taxa de sucesso e um número reduzido de complicações, mas com o risco de reestenose superior à da população geral93. Sempre que possível, é recomendado o uso de stents revestidos por fármaco, porque reduzem a frequência de reestenose quando comparados com stents metálicos, embora a sobrevida seja semelhante nos 2 tipos de stents93–96.

A única terapêutica definitiva continua a ser a retransplantação que pode ser considerada em doentes com VA grave e sem contraindicações para um novo transplante97. O retransplante cardíaco encontra-se associado a uma sobrevida global inferior à do primeiro transplante. No entanto, quando este é efetuado após cinco anos do primeiro transplante, a sobrevida a um ano é satisfatória e comparável à do transplante primário1. A retransplantação cardíaca no contexto específico da DVA também parece estar associada a melhor sobrevida quando comparada com outras causas de retransplante98.

Conclusão

A DVA é de causa multifatorial e constitui a principal limitação da sobrevida a longo prazo pós transplantação cardíaca. O seu diagnóstico precoce é difícil, mas reveste-se de grande importância, porque permite tratar a doença num estadio inicial de forma a atrasar a sua progressão e melhorar o prognóstico. A angiografia coronária permanece o método de diagnóstico recomendado para a deteção da doença e ganha sensibilidade se for realizada conjuntamente com a ecografia intravascular. Novas técnicas de diagnóstico não invasivas podem vir a ter relevância clínica no futuro. De realçar que a abordagem do doente transplantado passa pela melhor concertação das formas de tratamento nos diferentes centros. Porque só é possível melhorar a sobrevida global do doente transplantado cardíaco se, em conjunto, conseguirmos detetar mais precocemente, prevenir melhor e tratar mais ativamente a DVA.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Dr.a Sância Ramos do laboratório de patologia do Hospital de Santa Cruz (C.H.L.O.) pela sua colaboração no âmbito da patologia da DVA.

Bibliografia
[1]
J.E.L. Stehlik, A.Y. Kucheryavaya, P. Aurora, et al.
The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: twenty-seventh official adult heart transplant report--2010.
J Heart Lung Transplant, 29 (2010), pp. 1089-1103
[2]
J. Queiroz e Melo.
Transplantação Cardíaca.
Rev Port Cardiol, 8 (1989), pp. 625-628
[3]
M.J. Rebocho, C. Aguiar, J. Queiroz e Melo.
Morbilidade e Mortalidade após Transplantação Cardíaca.
Rev Port Cardiol, 20 (2001), pp. 67-74
[4]
J.F.C. Silva Cardoso, M.J. Rebocho, R. Palma Reis, et al.
Transplantação cardíaca em Portugal: Realidade e Perspectivas.
Rev Port Cardiol, 21 (2002), pp. 1077-1097
[5]
Relatório Estatístico 2010. 2010 [consultado 20 Mai 2012]. Disponível em: www.asst.min-saude.pt/SiteCollectionDocuments/RelatorioEstatistico2010.pdf
[6]
T.E.K.G. Starzl, K.A. Porter, S. Iwatsuki, et al.
Liver transplantation with use of cyclosporin and prednisone.
N Engl J Med, 305 (1981), pp. 266-269
[7]
M.R. Mehra, M.G. Crespo-Leiro, A. Dipchand, et al.
International Society for Heart and Lung Transplantation working formulation of a standardized nomenclature for cardiac allograft vasculopathy-2010.
J Heart Lung Transplant, 29 (2010), pp. 717-727
[8]
M.R. Costanzo, A. Dipchand, R. Starling, et al.
The International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines for the care of heart transplant recipients.
J Heart Lung Transplant, 29 (2010), pp. 914-956
[9]
B.K. Julius, C.H. Attenhofer Jost, G. Sutsch, et al.
Incidence, progression and functional significance of cardiac allograft vasculopathy after heart transplantation.
Transplantation, 69 (2000), pp. 847-853
[10]
M.E. Billington.
Histopathology of graft coronary disease.
J Heart Lung Transplant, 11 (1992), pp. S38-S44
[11]
S.R.N.S. Kapadia, E.M. Tuzcu.
Impact of intravascular ultrasound in understanding transplant coronary artery disease.
Curr Opin Cardiol, 14 (1999), pp. 140-150
[12]
D. Schmauss, M. Weis.
Cardiac allograft vasculopathy: recent developments.
Circulation, 117 (2008), pp. 2131-2141
[13]
D.E. Johnson, S.Z. Gao, J.S. Schroeder, et al.
The spectrum of coronary artery pathologic findings in human cardiac allografts.
J Heart Transplant, 8 (1989), pp. 349-359
[14]
M. Rahmani, R.P. Cruz, D.J. Granville, et al.
Allograft vasculopathy versus atherosclerosis.
[15]
G. Vassalli, A. Gallino, M. Weis, et al.
Alloimmunity and nonimmunologic risk factors in cardiac allograft vasculopathy.
Eur Heart J, 24 (2003), pp. 1180-1188
[16]
E. Raichlin, J.H. Bae, S.S. Kushwaha, et al.
Inflammatory burden of cardiac allograft coronary atherosclerotic plaque is associated with early recurrent cellular rejection and predicts a higher risk of vasculopathy progression.
J Am Coll Cardiol, 53 (2009), pp. 1279-1286
[17]
K. Pethig, B. Heublein, I. Kutschka, et al.
Systemic inflammatory response in cardiac allograft vasculopathy: high-sensitive C-reactive protein is associated with progressive luminal obstruction.
Circulation, 102 (2000), pp. III233-III236
[18]
E.R. Raichlin, J.P. McConnell, A. Lerman, et al.
Systemic inflammation and metabolic syndrome in cardiac allograft vasculopathy.
J Heart Lung Transplant, 26 (2007), pp. 826-833
[19]
A. Hognestad, K. Endresen, R. Wergeland, et al.
Plasma C-reactive protein as a marker of cardiac allograft vasculopathy in heart transplant recipients.
J Am Coll Cardiol, 42 (2003), pp. 477-482
[20]
H.O. Ventura, M.R. Mehra.
C-Reactive protein and cardiac allograft vasculopathy: is inflammation the critical link?.
J Am Coll Cardiol, 42 (2003), pp. 483-485
[21]
A.E.K. Hognestad, R. Wergeland, O. Stokke, et al.
Plasma C-reactive protein as a marker of cardiac allograft vasculopathy in heart transplant recipients.
J Am Coll Cardiol, 42 (2003), pp. 477-482
[22]
S.F. Davis, A.C. Yeung, I.T. Meredith, et al.
Early endothelial dysfunction predicts the development of transplant coronary artery disease at 1 year posttransplant.
Circulation, 93 (1996), pp. 457-462
[23]
S.M. Hollenberg, L.W. Klein, J.E. Parrillo, et al.
Coronary endothelial dysfunction after heart transplantation predicts allograft vasculopathy and cardiac death.
Circulation, 104 (2001), pp. 3091-3096
[24]
Z. Liu, S.M. Wildhirt, S. Weismuller, et al.
Nitric oxide and endothelin in the development of cardiac allograft vasculopathy. Potential targets for therapeutic interventions.
Atherosclerosis, 140 (1998), pp. 1-14
[25]
J. Koglin.
Pathogenetic mechanisms of cardiac allograft vasculopathy--impact of nitric oxide.
Z Kardiol, 89 (2000), pp. IX/24-IX/27
[26]
J.D. Hosenpud, J.P. Everett, T.E. Morris, et al.
Cardiac allograft vasculopathy. Association with cell-mediated but not humoral alloimmunity to donor-specific vascular endothelium.
Circulation, 92 (1995), pp. 205-211
[27]
D.M. Briscoe, A.C. Yeung, F.J. Schoen, et al.
Predictive value of inducible endothelial cell adhesion molecule expression for acute rejection of human cardiac allografts.
Transplantation, 59 (1995), pp. 204-211
[28]
C.D. Tan, W.M. Baldwin 3rd, E.R. Rodriguez.
Update on cardiac transplantation pathology.
Arch Pathol Lab Med, 131 (2007), pp. 1169-1191
[29]
E.A. Rose, P. Pepino, M.L. Barr, et al.
Relation of HLA antibodies and graft atherosclerosis in human cardiac allograft recipients.
J Heart Lung Transplant, 11 (1992), pp. S120-S123
[30]
N. Suciu-Foca, E. Reed, C. Marboe, et al.
The role of anti-HLA antibodies in heart transplantation.
Transplantation, 51 (1991), pp. 716-724
[31]
R. Fredrich, M. Toyoda, L.S. Czer, et al.
The clinical significance of antibodies to human vascular endothelial cells after cardiac transplantation.
Transplantation, 67 (1999), pp. 385-391
[32]
I. Kaczmarek, M.A. Deutsch, T. Kauke, et al.
Donor-specific HLA alloantibodies: long-term impact on cardiac allograft vasculopathy and mortality after heart transplant.
Exp Clin Transplant, 6 (2008), pp. 229-235
[33]
M.J. Wilhelm, J. Pratschke, F. Beato, et al.
Activation of the heart by donor brain death accelerates acute rejection after transplantation.
Circulation, 102 (2000), pp. 2426-2433
[34]
J.D. Day, B.K. Rayburn, P.B. Gaudin, et al.
Cardiac allograft vasculopathy: the central pathogenetic role of ischemia-induced endothelial cell injury.
J Heart Lung Transplant, 14 (1995), pp. S142-S149
[35]
M.T. Grattan, C.E. Moreno-Cabral, V.A. Starnes, et al.
Cytomegalovirus infection is associated with cardiac allograft rejection and atherosclerosis.
JAMA, 261 (1989), pp. 3561-3566
[36]
M. Weis, T.N. Kledal, K.Y. Lin, et al.
Cytomegalovirus infection impairs the nitric oxide synthase pathway: role of asymmetric dimethylarginine in transplant arteriosclerosis.
Circulation, 109 (2004), pp. 500-505
[37]
M.S. Kemna, H.A. Valantine, S.A. Hunt, et al.
Metabolic risk factors for atherosclerosis in heart transplant recipients.
Am Heart J, 128 (1994), pp. 68-72
[38]
H. Li, K. Tanaka, H. Anzai, et al.
Influence of pre-existing donor atherosclerosis on the development of cardiac allograft vasculopathy and outcomes in heart transplant recipients.
J Am Coll Cardiol, 47 (2006), pp. 2470-2476
[39]
H. Valantine.
Cardiac allograft vasculopathy after heart transplantation: risk factors and management.
J Heart Lung Transplant, 23 (2004), pp. S187-S193
[40]
C.I. Chamorro, L. Almenar, L. Martinez-Dolz, et al.
Do cardiovascular risk factors influence cardiac allograft vasculopathy?.
Transplant Proc, 38 (2006), pp. 2572-2574
[41]
E.M. Tuzcu, S.R. Kapadia, R. Sachar, et al.
Intravascular ultrasound evidence of angiographically silent progression in coronary atherosclerosis predicts long-term morbidity and mortality after cardiac transplantation.
J Am Coll Cardiol, 45 (2005), pp. 1538-1542
[42]
F.W. Smart, C.M. Ballantyne, B. Cocanougher, et al.
Insensitivity of noninvasive tests to detect coronary artery vasculopathy after heart transplant.
Am J Cardiol, 67 (1991), pp. 243-247
[43]
M.R. Costanzo, D.C. Naftel, M.R. Pritzker, et al.
Heart transplant coronary artery disease detected by coronary angiography: a multiinstitutional study of preoperative donor and recipient risk factors. Cardiac Transplant Research Database.
J Heart Lung Transplant, 17 (1998), pp. 744-753
[44]
F.G. St Goar, F.J. Pinto, E.L. Alderman, et al.
Intracoronary ultrasound in cardiac transplant recipients. In vivo evidence of “angiographically silent” intimal thickening.
Circulation, 85 (1992), pp. 979-987
[45]
S. Stork, T.M. Behr, M. Birk, et al.
Assessment of cardiac allograft vasculopathy late after heart transplantation: when is coronary angiography necessary?.
J Heart Lung Transplant, 25 (2006), pp. 1103-1108
[46]
A. Hirohata, M. Nakamura, K. Waseda, et al.
Changes in coronary anatomy and physiology after heart transplantation.
Am J Cardiol, 99 (2007), pp. 1603-1607
[47]
J.A. Kobashigawa.
First-year intravascular ultrasound results as a surrogate marker for outcomes after heart transplantation.
J Heart Lung Transplant, 22 (2003), pp. 711-714
[48]
J.A.T.J. Kobashigawa, R.C. Starling, E.M. Tuzcu, et al.
Multicenter intravascular ultrasound validation study among heart transplant recipients: outcomes after five years.
J Am Coll Cardiol, 45 (2005), pp. 1532-1537
[49]
W.F. Fearon, M. Nakamura, D.P. Lee, et al.
Simultaneous assessment of fractional and coronary flow reserves in cardiac transplant recipients: Physiologic Investigation for Transplant Arteriopathy (PITA Study).
Circulation, 108 (2003), pp. 1605-1610
[50]
W.F. Fearon, A. Hirohata, M. Nakamura, et al.
Discordant changes in epicardial and microvascular coronary physiology after cardiac transplantation: Physiologic Investigation for Transplant Arteriopathy II (PITA II) study.
J Heart Lung Transplant, 25 (2006), pp. 765-771
[51]
N.E. Hiemann, E. Wellnhofer, C. Knosalla, et al.
Prognostic impact of microvasculopathy on survival after heart transplantation: evidence from 9713 endomyocardial biopsies.
Circulation, 116 (2007), pp. 1274-1282
[52]
J. Escaned, A. Flores, P. Garcia-Pavia, et al.
Assessment of microcirculatory remodeling with intracoronary flow velocity and pressure measurements: validation with endomyocardial sampling in cardiac allografts.
Circulation, 120 (2009), pp. 1561-1568
[53]
J. Carlsen, J.C. Toft, S.A. Mortensen, et al.
Myocardial perfusion scintigraphy as a screening method for significant coronary artery stenosis in cardiac transplant recipients.
J Heart Lung Transplant, 19 (2000), pp. 873-878
[54]
Y.W. Wu, R.F. Yen, C.M. Lee, et al.
Diagnostic and prognostic value of dobutamine thallium-201 single-photon emission computed tomography after heart transplantation.
J Heart Lung Transplant, 24 (2005), pp. 544-550
[55]
G.R. Ciliberto, L. Ruffini, M. Mangiavacchi, et al.
Resting echocardiography and quantitative dipyridamole technetium-99m sestamibi tomography in the identification of cardiac allograft vasculopathy and the prediction of long-term prognosis after heart transplantation.
Eur Heart J, 22 (2001), pp. 964-971
[56]
A. Elhendy, R.T. Van Domburg, P. Vantrimpont, et al.
Prediction of mortality in heart transplant recipients by stress technetium-99m tetrofosmin myocardial perfusion imaging.
Am J Cardiol, 89 (2002), pp. 964-968
[57]
C.H. Spes, V. Klauss, H. Mudra, et al.
Diagnostic and prognostic value of serial dobutamine stress echocardiography for noninvasive assessment of cardiac allograft vasculopathy: a comparison with coronary angiography and intravascular ultrasound.
Circulation, 100 (1999), pp. 509-515
[58]
K.O.M.S. Akosah, J.S. Hanrahan, P.K. Mohanty.
Dobutamine stress echocardiography early after heart transplantation predicts development of allograft coronary artery disease and outcome.
J Am Coll Cardiol, 31 (1998), pp. 1607-1614
[59]
G. Derumeaux, M. Redonnet, D. Mouton-Schleifer, et al.
Dobutamine stress echocardiography in orthotopic heart transplant recipients. VACOMED Research Group.
J Am Coll Cardiol, 25 (1995), pp. 1665-1672
[60]
T. Nguyen, R. Ahmadie, T. Fang, et al.
Stress echocardiography: abnormal tissue doppler imaging in the absence of cardiac allograft vasculopathy in heart transplant recipients.
Echocardiography, (2008 Nov 7),
[61]
E. Eroglu, J. D’Hooge, G.R. Sutherland, et al.
Quantitative dobutamine stress echocardiography for the early detection of cardiac allograft vasculopathy in heart transplant recipients.
[62]
F. Tona, A.L. Caforio, R. Montisci, et al.
Coronary flow reserve by contrast-enhanced echocardiography: a new noninvasive diagnostic tool for cardiac allograft vasculopathy.
Am J Transplant, 6 (2006), pp. 998-1003
[63]
E. Osto, F. Tona, A. Angelini, et al.
Determinants of coronary flow reserve in heart transplantation: a study performed with contrast-enhanced echocardiography.
J Heart Lung Transplant, 28 (2009), pp. 453-460
[64]
F. Tona, E. Osto, G. Tarantini, et al.
Coronary flow reserve by transthoracic echocardiography predicts epicardial intimal thickening in cardiac allograft vasculopathy.
Am J Transplant, 10 (2010), pp. 1668-1676
[65]
F. Tona, A.L. Caforio, R. Montisci, et al.
Coronary flow velocity pattern and coronary flow reserve by contrast-enhanced transthoracic echocardiography predict long-term outcome in heart transplantation.
Circulation, 114 (2006), pp. I49-I55
[66]
S. Iyengar, D.S. Feldman, G.E. Cooke, et al.
Detection of coronary artery disease in orthotopic heart transplant recipients with 64-detector row computed tomography angiography.
J Heart Lung Transplant, 25 (2006), pp. 1363-1366
[67]
S.A. Gregory, M. Ferencik, S. Achenbach, et al.
Comparison of sixty-four-slice multidetector computed tomographic coronary angiography to coronary angiography with intravascular ultrasound for the detection of transplant vasculopathy.
Am J Cardiol, 98 (2006), pp. 877-884
[68]
T. Schepis, S. Achenbach, M. Weyand, et al.
Comparison of dual source computed tomography versus intravascular ultrasound for evaluation of coronary arteries at least one year after cardiac transplantation.
Am J Cardiol, 104 (2009), pp. 1351-1356
[69]
S. Nunoda, H. Machida, A. Sekikawa, et al.
Evaluation of cardiac allograft vasculopathy by multidetector computed tomography and whole-heart magnetic resonance coronary angiography.
Circ J, 74 (2010), pp. 946-953
[70]
B. Mahesh, H.S. Leong, A. McCormack, et al.
Autoantibodies to vimentin cause accelerated rejection of cardiac allografts.
Am J Pathol, 170 (2007), pp. 1415-1427
[71]
M.R. Mehra, J.A. Kobashigawa, M.C. Deng, et al.
Clinical implications and longitudinal alteration of peripheral blood transcriptional signals indicative of future cardiac allograft rejection.
J Heart Lung Transplant, 27 (2008), pp. 297-301
[72]
M.R. Mehra, P.A. Uber, S. Potluri, et al.
Usefulness of an elevated B-type natriuretic peptide to predict allograft failure, cardiac allograft vasculopathy, and survival after heart transplantation.
Am J Cardiol, 94 (2004), pp. 454-458
[73]
C.A. Labarrere, D.R. Nelson, C.J. Cox, et al.
Cardiac-specific troponin I levels and risk of coronary artery disease and graft failure following heart transplantation.
JAMA, 284 (2000), pp. 457-464
[74]
L. Martinez-Dolz, L. Almenar, E. Reganon, et al.
Follow-up study on the utility of von Willebrand factor levels in the diagnosis of cardiac allograft vasculopathy.
J Heart Lung Transplant, 27 (2008), pp. 760-766
[75]
M.R. Mehra.
Contemporary concepts in prevention and treatment of cardiac allograft vasculopathy.
Am J Transplant, 6 (2006), pp. 1248-1256
[76]
J. Lindenfeld, R.L. Page 2nd, R. Zolty, et al.
Drug therapy in the heart transplant recipient: Part III: common medical problems.
Circulation, 111 (2005), pp. 113-117
[77]
J.A. Kobashigawa, S. Katznelson, H. Laks, et al.
Effect of pravastatin on outcomes after cardiac transplantation.
N Engl J Med, 333 (1995), pp. 621-627
[78]
K. Wenke, B. Meiser, J. Thiery, et al.
Simvastatin reduces graft vessel disease and mortality after heart transplantation: a four-year randomized trial.
Circulation, 96 (1997), pp. 1398-1402
[79]
B.M.F. Kwak, S. Myit, F. Mach.
Statins as a newly recognized type of immunomodulator.
Nat Med, 6 (2000), pp. 1399-1402
[80]
G.A. Knoll, R.C. Bell.
Tacrolimus versus cyclosporin for immunosuppression in renal transplantation: meta-analysis of randomised trials.
BMJ, 318 (1999), pp. 1104-1107
[81]
J. Lindenfeld, G.G. Miller, S.F. Shakar, et al.
Drug therapy in the heart transplant recipient: part II: immunosuppressive drugs.
Circulation, 110 (2004), pp. 3858-3865
[82]
R.D. Bloom, M.F. Crutchlow.
Transplant-associated hyperglycemia.
Transplant Rev, 22 (2008), pp. 39-51
[83]
J.A. Kobashigawa, D.A. Leaf, N. Lee, et al.
A controlled trial of exercise rehabilitation after heart transplantation.
N Engl J Med, 340 (1999), pp. 272-277
[84]
M. Haykowsky, D. Taylor, D. Kim, et al.
Exercise training improves aerobic capacity and skeletal muscle function in heart transplant recipients.
Am J Transplant, 9 (2009), pp. 734-739
[85]
E. Raichlin, J.H. Bae, Z. Khalpey, et al.
Conversion to sirolimus as primary immunosuppression attenuates the progression of allograft vasculopathy after cardiac transplantation.
Circulation, 116 (2007), pp. 2726-2733
[86]
H.J. Eisen, J. Kobashigawa, A. Keogh, et al.
Three-year results of a randomized, double-blind, controlled trial of mycophenolate mofetil versus azathioprine in cardiac transplant recipients.
J Heart Lung Transplant, 24 (2005), pp. 517-525
[87]
H.J. Eisen, E.M. Tuzcu, R. Dorent, et al.
Everolimus for the prevention of allograft rejection and vasculopathy in cardiac-transplant recipients.
N Engl J Med, 349 (2003), pp. 847-858
[88]
A. Keogh, M. Richardson, P. Ruygrok, et al.
Sirolimus in de novo heart transplant recipients reduces acute rejection and prevents coronary artery disease at 2 years: a randomized clinical trial.
Circulation, 110 (2004), pp. 2694-2700
[89]
R. Lamich, M. Ballester, V. Marti, et al.
Efficacy of augmented immunosuppressive therapy for early vasculopathy in heart transplantation.
J Am Coll Cardiol, 32 (1998), pp. 413-419
[90]
M. Musci, M. Loebe, E. Wellnhofer, et al.
Coronary angioplasty, bypass surgery, and retransplantation in cardiac transplant patients with graft coronary disease.
Thorac Cardiovasc Surg, 46 (1998), pp. 268-274
[91]
J.M. Aranda, D.F. Pauly, R.A. Kerensky, et al.
Percutaneous coronary intervention versus medical therapy for coronary allograft vasculopathy. One center's experience.
J Heart Lung Transplant, 21 (2002), pp. 860-866
[92]
J.K. Bhama, D.Q. Nguyen, S. Scolieri, et al.
Surgical revascularization for cardiac allograft vasculopathy: Is it still an option?.
J Thorac Cardiovasc Surg, 137 (2009), pp. 1488-1492
[93]
P. Colombo, G. Bruschi, A. Sacco, et al.
Percutaneous coronary interventions in cardiac allograft vasculopathy: a single-center experience.
Transplant Proc, 42 (2010), pp. 1286-1290
[94]
M.S. Lee, J. Kobashigawa, J. Tobis.
Comparison of percutaneous coronary intervention with bare-metal and drug-eluting stents for cardiac allograft vasculopathy.
JACC Cardiovasc Interv, 1 (2008), pp. 710-715
[95]
R.A. Aqel, B.J. Wells, F.G. Hage, et al.
Re-stenosis after drug-eluting stents in cardiac allograft vasculopathy.
J Heart Lung Transplant, 27 (2008), pp. 610-615
[96]
A. Gupta, D. Mancini, A.J. Kirtane, et al.
Value of drug-eluting stents in cardiac transplant recipients.
Am J Cardiol, 103 (2009), pp. 659-662
[97]
M.R. Johnson, K.D. Aaronson, C.E. Canter, et al.
Heart retransplantation.
Am J Transplant, 7 (2007), pp. 2075-2081
[98]
B. Radovancevic, D.C. McGiffin, J.A. Kobashigawa, et al.
Retransplantation in 7,290 primary transplant patients: a 10-year multi-institutional study.
J Heart Lung Transplant, 22 (2003), pp. 862-868
Copyright © 2010. Sociedade Portuguesa de Cardiologia
Idiomas
Revista Portuguesa de Cardiologia
Opções de artigo
Ferramentas
en pt

Are you a health professional able to prescribe or dispense drugs?

Você é um profissional de saúde habilitado a prescrever ou dispensar medicamentos

Ao assinalar que é «Profissional de Saúde», declara conhecer e aceitar que a responsável pelo tratamento dos dados pessoais dos utilizadores da página de internet da Revista Portuguesa de Cardiologia (RPC), é esta entidade, com sede no Campo Grande, n.º 28, 13.º, 1700-093 Lisboa, com os telefones 217 970 685 e 217 817 630, fax 217 931 095 e com o endereço de correio eletrónico revista@spc.pt. Declaro para todos os fins, que assumo inteira responsabilidade pela veracidade e exatidão da afirmação aqui fornecida.