A utilidade da angioTC cardíaca na avaliação da anatomia coronária está amplamente aceite1. No entanto, esta técnica de imagem permite a visualização, com cada vez melhor definição, das outras estruturas cardíacas. Assim, é relativamente frequente encontrarem-se imagens que constituem achados.
Os autores apresentam 3 casos clínicos de achados intracardíacos, aquando da realização de uma angioTC cardíaca.
Caso 1Doente do sexo masculino de 20 anos com queixas de dor torácica, referenciado para realização de angioTC cardíaca para exclusão de anomalia das artérias coronárias. O exame revelou coronárias com origem e trajeto dentro da normalidade. As imagens permitiram verificar a passagem de contraste da aurícula esquerda (AE) para a aurícula direita (AD), levantando a suspeita da existência de uma solução de continuidade entre essas cavidades. O ecocardiograma transesofágico confirmou o diagnóstico de comunicação interauricular tipo ostium secundum (Figura 1). O doente foi submetido a encerramento cirúrgico.
Caso 2Doente do sexo masculino de 50 anos, com antecedentes de diabetes mellitus tipo 2, fibrilhação auricular permanente e queixas de dor torácica, foi referenciado para realização de angioTC cardíaca para exclusão de doença coronária. O exame revelou doença coronária não significativa, AE dilatada e imagem de subtração no apêndice auricular esquerdo (Figura 2), sugestiva de trombo. Apesar de não ter sido realizada uma segunda passagem poucos minutos após a primeira aquisição, o que permitiria confirmar o diagnóstico de trombo, não foi realizado ecotransesofágico com este propósito, uma vez que o resultado não iria alterar a orientação terapêutica. O doente tinha indicação para iniciar anticoagulação oral que iniciou nessa altura.
Caso 3Doente do sexo masculino de 58 anos com doença coronária conhecida, tendo sido submetido a angioplastia da descendente anterior proximal no passado. Apresentava recorrência de angor pelo que foi referenciado para realização de angioTC cardíaca com intuito de avaliar a patência do stent. O exame excluiu progressão da doença coronária, revelou hipertrofia assimétrica do ventrículo esquerdo, com septo interventricular medindo 36mm (Figura 3), alterações compatíveis com miocardiopatia hipertrófica. O doente foi submetido a implantação de um cardiodesfibrilador e até ao momento não se registaram terapêuticas apropriadas.
DiscussãoA angioTC é um dos meios complementares de diagnóstico mais promissores ao dispor da Cardiologia. Os avanços nos aparelhos de Tomografia Computorizada, nomeadamente na melhoria da resolução espacial, na diminuição dos tempos de aquisição e da quantidade de radiação utilizada, tornam-na capaz de diagnosticar, com cada vez maior precisão, um também maior leque de patologias cardíacas.
Os autores apresentam 3 casos clínicos em que a angioTC cardíaca foi primariamente realizada para exclusão de patologia coronária, mas nos quais foi possível diagnosticar outras patologias cardíacas que alteraram a orientação terapêutica dos doentes.
Vários artigos têm sido publicados sobre achados extracardíacos diagnosticados com esta técnica2, no entanto, os achados intracardíacos com impacto prognóstico realçam a utilidade deste método no diagnóstico de outras patologias cardíacas.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.