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Vol. 42. Núm. 12.
Páginas 935-936 (dezembro 2023)
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Páginas 935-936 (dezembro 2023)
In Memoriam
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Professor Fernando de Pádua
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Fausto J. Pintoa,b,
Autor para correspondência
faustopinto@medicina.ulisboa.pt

Autor para correspondência.
a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), Lisboa, Portugal
b Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Lisboa, Portugal
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A medicina portuguesa ficou mais pobre com o desaparecimento recente do professor Fernando de Pádua, líder incontornável durante décadas, que inspirou várias gerações de médicos, como a minha. E foi um líder na verdadeira aceção da palavra, deixando um legado absolutamente extraordinário, simbolizado não só na imensa obra feita ao longo de anos, mas, sobretudo, na plêiade enorme de discípulos que formou e nos quais deixou bem vincada a sua marca. Deixo aqui extratos do discurso que proferi na altura em que lhe foi justamente atribuído o Prémio Saúde Sustentável, em 2018, e que resumem um pouco quem foi este homem notável que a todos tocou para sempre e que tenho a honra de chamar de mestre.

«Este ano, mais uma Personalidade de Excelência irá ser contemplada e coube-me a mim fazer a sua apresentação. Agradeço, naturalmente, o convite para fazer a apresentação dessa personalidade, o que, tendo em conta a pessoa em causa, constitui uma honra redobrada. Dizer que se trata duma personalidade única é absolutamente redundante, pois, por definição, o atribuir um prémio individual é, isso mesmo, o fazê-lo a alguém com percurso único, digno de relevo e de ser devidamente reconhecido.

O homenageado de hoje enquadra-se naquele que alguns definem como o Homem de Pascal, em oposição ao Homem de Descartes, ou seja, o homem que vive e palpita, o homem que arrasta o seu destino e, despojado em um canto do Universo, sofre ou se alegra, canta ou chora, e algumas vezes sofre cantando ou chora na alegria. Exalta a sua grandeza e arrasta a sua miséria. Pensa em si mesmo, pensa nos seus semelhantes, comunicando-se com eles. Conhece nele e no mundo o problema e o mistério. Ama, procria e morre. Mas, depois de sua morte, deixa no mundo algo mais que um corpo perecível. Deixa a história única e irrepetível de seu destino pessoal e uma mensagem de emotividade que outro coração recolhe.

E, como já afirmou Ortega y Gasset, «eu sou eu e as minhas circunstâncias», no conceito em que o homem, além de estar aberto às coisas, está aberto aos outros homens, de modo que existir é «ser com os outros», e o homem que hoje homenageamos é o símbolo disso mesmo.

Muitos são os feitos que a personalidade de hoje conseguiu ao longo da sua vida, em tempos nem sempre fáceis, sendo um símbolo do inovador inventivo, e, sobretudo de uma resiliência sem limites,

«Muito cedo procurou o saber noutras paragens, e, aquando do seu regresso a Portugal, trouxe consigo uma bagagem cheia de ideias encaradas como revolucionárias aos olhos da maior parte dos seus contemporâneos. Esteve sempre à frente do seu tempo, o que, por vezes, lhe causou alguma amargura, pela incompreensão a que foi sujeito. Mas, ao mesmo tempo, foi sempre um vencedor, sabendo contornar as dificuldades e lidar com essa mesma incompreensão. Lendo Sêneca, aprendemos que a virtude tem fome das dificuldades e elas sustentam sua glória.

«Foi um dos grandes pioneiros da utilização inteligente da divulgação de mensagens para a saúde, através do recurso intensivo aos órgãos de comunicação social, e foi fundador de instituições de promoção da saúde e de prevenção da doença, tendo lutado, ao longo da sua vida, por uma melhor qualidade de vida dos portugueses. Não se limitou à zona de conforto de qualquer médico, ou seja, o hospital ou o seu consultório. Foi muito mais além nessa ambição de chegar com a sua mensagem a cada um que o pudesse ouvir.

«Nos anos 70, criou uma fundação, com o objetivo de viabilizar a comunicação direta com a população, em termos de prevenção e de educação para a saúde, seguindo modelos em prática noutros países.

«Foi vendo reconhecido o seu valor ao longo dos anos, tendo sido agraciado com as mais variadas distinções, quer em Portugal, como no mundo. No mundo académico, o seu mundo, venceu tudo o que havia para vencer. Fez jus ao preceito, que muitos (eu incluído) defendem, que a academia precisa cada vez mais sair para o mundo. Precisa derrubar os muros e deixar-se consolidar na sua vertente científico-cultural, inserida no meio em que se desenvolve.

A medicina, apesar de ser ciência, como dizia Hipócrates, ‘é ciência na sua elaboração e arte na sua execução’. Baseia-se num tripé: «Curar, quando possível. Aliviar, quase sempre. Consolar, sempre». O homenageado de hoje foi exímio na forma como seguiu estes preceitos hipocráticos e será, possivelmente, aquilo que muitos já lhe chamaram «A personificação excelsa e purista do médico na sua vertente humanista, científica e pedagógica».

Então quem será o premiado deste ano? É médico, professor, pedagogo, cientista, humanista, um dos grandes, senão o maior, impulsionador da medicina preventiva em Portugal. Conhecido como «O Homem do Coração» ou «O Homem do Laço», estou a falar do meu mestre, o senhor professor Fernando de Pádua. Bem haja, professor, e muitos parabéns!!»

Um xi-coração!!! Até sempre, professor Pádua!!!

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