Doented 63 anos, sexo masculino, admitido por síndrome febril. Tinha uma história prévia de endocardite da válvula aórtica causada por streptococcus viridans aos 41 anos. Nesse internamento foram efectuados os diagnósticos adicionais de comunicação interventricular (CIV), estenose subaórtica e insuficiência aórtica (IA). Após curso de antibioterapia dirigida, foi submetido a cirurgia cardíaca, com reparação da CIV, resseção de membrana subaórtica e implantação de uma prótese aórtica mecânica. Cerca de um ano após esta intervenção, necessitou de substituição protésica por endocardite refractária provocada por staphylococcus epidermidis. Decorridos 14 anos foi submetido a nova cirurgia de substituição da prótese aórtica por abcesso periprotésico, com isolamento de staphylococcus aureus. O doente teve dois novos episódios de endocardite a streptococcus viridans, 5 e 7 anos depois, resolvidos com antibioterapia.
No presente internamento foi diagnosticada endocardite de prótese a staphylococcus epidermidis. O ecocardiograma mostrava insuficiência mitral grave e IA secundária a leak periprotésico e uma cavidade de grandes dimensões posterior ao arco aórtico e comunicando com a deiscência da prótese e com a aorta (Figura 1A). A TAC multicortes identificou a estrutura como um aneurisma sacular e o respectivo colo (Figura 1B e C). A aortografia (Figura 1D) confirmou os achados de um extenso aneurisma e IA grave. Após oito semanas de antibioterapia dirigida foi submetido a nova cirurgia cardíaca, com implantação de dupla prótese mitro-aórtica e exclusão do aneurisma com um enxerto de dacron.
A infecção protésica e extensão perianular é uma complicação grave da endocardite. Neste doente, as repetidas infecções bacterianas provocaram deiscência protésica, IA grave e a formação de um extenso aneurisma micótico. A angioTAC e a aortografia estabeleceram o diagnóstico anatómico, dimensão e extensão do aneurisma, permitindo uma correcta programação da cirurgia.