As doenças cardiovasculares (DCV) representam a causa principal de morbilidade e mortalidade no mundo ocidental. Apesar dos avanços extraordinários no tratamento destas doenças, com repercussão direta nas taxas de mortalidade das principais, ainda há um longo caminho a percorrer principalmente no âmbito da Prevenção Cardiovascular. De facto, a prevalência das DCV tem-se mantido bastante elevada e sendo em grande parte potencialmente prevenível, tal representa um alvo importante da comunidade científica para o desenvolvimento e implementação de medidas que possam reduzir o impacto das DCV1,2.
Em 2008 a OMS (Organização Mundial de Saúde) aprovou um Plano de Ação para uma Estratégia Global para a Prevenção e Controle das Doenças Não Transmissíveis3 que inclui os seguintes componentes: vigilância, prevenção e cuidados de saúde.
A importância destes componentes foi reforçada durante a Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU para a Prevenção e Controle de Doenças Não Transmissíveis que ocorreu em Nova Iorque de 19 a 20 de setembro de 2011. A Resolução 66/2 aí produzida4 foi adoptada pela Assembleia Geral em 19 de setembro de 2011 e imputa a OMS a adoptar as seguintes medidas até final de 2012:
- 1.
Desenvolvimento de uma rede de monitorização global detalhada, incluindo um conjunto de indicadores aplicáveis às condições do País, afim de acompanhar o progresso realizado na implementação de estratégias nacionais e planos em Doenças Não Transmissíveis;
- 2.
Preparar recomendações para um conjunto de alvos voluntários para a prevenção e controle de Doenças Não Transmissíveis.
A Declaração Política também recomenda aos Estados Membro o desenvolvimento de alvos e indicadores nacionais, baseados na situação nacional e tendo como base a orientação da OMS.
Neste sentido várias organizações internacionais têm, isoladamente ou em cooperação com outras entidades, desenvolvido Recomendações de Prevenção. É neste âmbito que a prestigiada Sociedade Brasileira de Cardiologia, incorporada no Presidente da sua Direção, Prof. Jadelson Pinheiro de Andrade, decidiu elaborar a Carta do Rio de Janeiro 2012, em colaboração com as maiores Sociedades Cardiovasculares Internacionais (AHA - American Heart Association, ESC - European Society of Cardiology, SIC - Sociedade Interamericana de Cardiologia). Esta Carta contém um conjunto de princípios e recomendações para a Prevenção Cardiovascular a que cada uma das Sociedades deu o seu aval e vai promover a sua disseminação. É este documento que publicamos hoje na nossa Revista, como anexo a esta Nota Editorial, esperando que assim contribuamos para uma maior disseminação do mesmo.
Reitero aqui o que tenho dito em vários fóruns, ou seja, a importância de Portugal ser o parceiro privilegiado do Brasil nas relações entre a Europa e continente sul americano, neste caso no âmbito da Medicina Cardiovascular. Este é um bom exemplo onde um conjunto de circunstâncias permite à Cardiologia Portuguesa assumir um papel de relevo.
Espero que com a divulgação deste documento a comunidade cardiológica portuguesa possa participar de forma efetiva na sua implementação e que a SPC em particular assuma um papel ativo na sua concretização.
Termino com uma citação chinesa com mais de 4000 anos mas que mantém toda a atualidade: «Superior doctors prevent the disease. Mediocre doctors treat the disease before evident. Inferior doctors treat the full blown disease»5.