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Vol. 39. Núm. 2.
Páginas 55-56 (fevereiro 2020)
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In Memoriam
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Dr. Pedro Marques da Silva
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Mario Espiga Macedo
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A Sociedade Portuguesa de Cardiologia e a medicina portuguesa perderam recentemente, no início de 2020, e na véspera dos seus 62 anos, uma das suas mais ilustres personalidades, o Dr. Pedro Marques da Silva.

O Dr. Pedro Marques da Silva foi consultor em medicina interna, no Hospital de Santa Marta (CHLC), especialista em farmacologia clínica e farmacoepidemiologia, especialista europeu em hipertensão e tinha a competência em geriatria. Foi responsável do Núcleo de Investigação Arterial, do Ambulatório e da Consulta de Hipertensão Arterial e Dislipidémias (CHLN). Foi Research Fellow in Vascular Unit, no Hospital for Sick Children, Londres, 1996. Foi assistente de endocrinologia e nutrição, no Hospital Clínico Universitário de Valência (1998). Foi assessor clínico da Direção de Gestão do Risco de Medicamento no Infarmed. Foi membro do Grupo Europeu de Farmacovigilância (PhVWP), da Agência Europeia do Medicamento (EMEA). Foi consultor da Direção Geral da Saúde e autor de muitas das Normas de Orientação Clínica publicadas. Foi membro das Direções da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose, tesoureiro (1997‐99), secretário‐geral (2000‐02) e presidente (2003‐2006). Foi membro da Junta Diretiva da Sociedade Ibero‐latino‐americana de Aterosclerose (Silat), vogal (2002‐2005), secretário‐geral (2005‐2008) e vice‐presidente (2008‐2011). Vogal do Secretariado do Grupo de Estudos de Cardiologia Geriátrica da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (2001‐2005 e 2007‐2010). Foi coordenador‐adjunto do Núcleo de Estudos de Prevenção e Risco Vascular da SPMI. Foi vice‐presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia.

O Dr. Pedro Marques da Silva foi reconhecido com Prémio Nunes Correa Verdades de Faria. Também lhe foi atribuído o título de sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, em cerimónia conjunta com a FPC e no Dia Mundial do Coração 2019. Foi o primeiro diploma de mérito da história da Sociedade.

O Dr. Pedro Marques da Silva foi um humanista por excelência e foi sempre com arte, amor e compaixão que viveu a sua vida e exerceu a nobre profissão de ser médico, que tentarei realçar nas linhas que a seguir escrevo.

Escrever sobre o Pedro é um previlégio nesta hora de dor e de saudade e tentarei fazer um retrato deste amigo de há mais de 35 anos, baseado na nossa vivência, amizade e cumplicidade, que se foi desenvolvendo ao longo dos anos, apesar de vivermos tão distantes, e escrevo porque ele, com certeza (e como a Isabel me pediu), gostaria que lhe prestasse esta homenagem.

A sua vida foi sempre uma batalha, contra as limitações físicas que o acompanhavam, e que sempre venceu e ultrapassou fruto da sua energia interior e da grandeza de alma que não o deixava esmorecer. Mas muitas outras batalhas ele foi travando ao longo da sua vida: a) na conquista de mais e mais saber sobre os problemas da medicina e na investigação clínica para saciar a sua inteligência insaciável; b) na procura de transmitir aos seus pares e aos seus discípulos o máximo possível da riqueza do seu saber; c) a sempre presente preocupação para que a medicina não se empolgasse pela ciência, não fosse seduzida pelas tecnologias ou ficasse atordoada pela burocracia, apagasse a sua face humana, ignorando a individualidade única de cada pessoa que sofre, pois ainda não se descobriu substituto da empatia e compaxão para aliviar o sofrimento do doente.

Foi um formador dos colegas mais jovens e mais velhos em todas as áreas da medicina, temos o testemunho de todos os seus internos e principalmente da gigantesca onda de médicos que lotaram as salas, anfiteatros e demais palcos da ciência e que se deliciaram com o pedagógico e multifacetado saber enciclopédico que o Dr. Pedro Marques da Silva explanava em todas as suas intervenções e que só terminavam pela ditadura do relógio. Foi indiscutivelmente um dos internistas portugueses mais reconhecidos e respeitados pelos seus pares e por toda a classe médica, quer entre nós quer no estrangeiro. Foi desde sempre um líder e formador dos mais novos, fez «escola».

Como médico, era possuído de uma rara inteligência e inesgotável capacidade de trabalho, tendo sido sempre um cultor da arte da medicina clínica, narrativa e humanista, com compaixão mas sem dó. O doente, na sua singularidade e nas suas facetas físicas, morais, sociais, esteve sempre à frente do seu trabalho diário, sem nunca esquecer a enorme e exigente competência profissional.

Foi um investigador de reconhecido êxito, nacional e internacional, tinha a qualidade de ser um inconformado perfecionista, insaciável na procura de mais e mais conhecimento, sempre com enorme rigor e seriedade e tendo como objetivo a procura da verdade e da melhor explicação, para otimizar o tratamentos dos seus doentes. Não é possível esquecer o seu profissional contributo, quer no Infarmed, na EMEA, na Direção Geral da Saúde, bem como as suas incontáveis publicações científicas de particular relevância e pertinência.

Finalmente, o Dr. Pedro Marques da Silva foi um homem que também foi médico, de grande espiritualidade, de uma modéstia e humildade inexcedíveis, com uma formação moral, cristã, ética e cultural transbordante, uma verticalidade indestrutível, extremo sentido de justiça, uma indomável determinação e positividade que ultrapassava e vencia todas as vicissitudes da vida, mas acima de tudo um amigo do seu amigo e do seu doente, um ser do mundo.

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