Journal Information
Vol. 33. Issue 9.
Pages 577-579 (September 2014)
Imagem em Cardiologia
Open Access
Transposição de grandes vasos congenitamente corrigida e endocardite de eletrocateter
Congenitally corrected transposition of the great vessels and defibrillator lead endocarditis
Visits
13164
Gonçalo Cardoso
Corresponding author
goncaloccardoso@gmail.com

Autor para correspondência.
, João Abecasis, Regina Ribeiras, Diogo Cavaco, Maria João Andrade, Miguel Mendes
Serviço de Cardiologia, Hospital de Santa Cruz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (5)
Show moreShow less
Tables (1)
Tabela 1. Critérios imagiológicos para diagnosticar transposição dos grandes vasos congenitamente corrigida – dupla discordância: auriculoventricular (AV) e ventrículo‐arterial
Tables
Additional material (5)
Full Text

Homem 56 anos, referenciado ao nosso serviço em 1978, com o diagnóstico de cardiopatia congénita não cianótica operada: encerramento de comunicações interventricular (CIV) e interauricular (CIA) associado a correção de estenose valvular pulmonar. A radiografia do tórax mostrava mesocárdia. A partir de 1992 verificaram‐se sintomas/sinais de insuficiência cardíaca, com sopro sistólico no bordo esternal esquerdo. Nos ecocardiogramas transtorácicos (ETT) seriados detetava‐se CIV residual alta, tendo uma ressonância magnética cardíaca (RM), em 1999, colocado o diagnóstico de transposição das grandes artérias sem presença de CIV/CIA.

Em 2005, foi‐lhe implantado um cardioversor desfibrilhador (CDI) por taquicardia ventricular sincopal (Figura 1).

Figura 1.

Radiografia de tórax que revela posição do eletrocateter (que se encontra dirigido para a direita) no ventrículo morfologicamente esquerdo.

Em 2011, foi internado no Luxemburgo por quadro febril, cefaleias, náuseas e alterações neurológicas não focais (estado estuporoso). Uma TAC‐CE mostrou um abcesso cerebral na região frontal mediana esquerda e o ecocardiograma transesofágico (ETE) identificou vegetações no eletrocateter. Apresentava hemoculturas positivas para Streptococcus constellatus e Micromonas micros.

Após apirexia mantida durante duas semanas (sob antibioterapia) foi transferido para o nosso serviço com os diagnósticos de endocardite de eletrocateter e abcesso cerebral em doente com Tetralogia de Fallot operada sem CIA/CIV.

Realizou ETT/ETE, tendo sido modificado o diagnóstico da cardiopatia congénita de base para «transposição dos grandes vasos congenitamente corrigida» (TGVCC) e CIA baixa (conforme figuras). Foi feita a extração do sistema de CDI. Por se ter observado durante o seu seguimento em consultas de CDI, prévias ao internamento, períodos de bloqueio auriculoventricular de terceiro grau e grande dependência de pacing ventricular e por se querer que o doente fique com o mínimo de material protésico intravascular, colocou‐se pacemaker dupla‐câmara epicárdico e CDI subcutâneo. Teve alta clinicamente estável.

Figura 2.

ETT: a) imagem anatomicamente normal em paraesternal eixo‐curto (PEE‐T); b) PEE‐T com grandes vasos paralelos e ventrículo morfologicamente direito anterior em continuidade com a aorta, também anterior (vídeo 1).

Figura 3.

ETE: a) imagem anatómica normal; b) imagem correspondente mostrando ausência de continuidade entre a válvula aórtica e a válvula auriculoventricular esquerda (morfologicamente tricúspide), através de um infundíbulo (asterisco); ventrículo morfologicamente direito em posição esquerda e válvula aórtica em normal continuidade com vaso sistémico (aorta) (vídeo 2).

Figura 4.

ETE: inserção das válvulas aurículo ventriculares no mesmo plano (seta), de acordo com associação de TCCGV com defeito de canal AV, que ocorre em até 75% dos casos2 (vídeo 3).

Figura 5.

ETE: aurícula recebendo duas veias cava (aurícula direita); válvula AV morfologicamente mitral em posição direita; eletrocateter (seta branca) identificando veia cava superior e ventrículo morfologicamente esquerdo em posição direita; SIA com shunt residual baixo (seta azul) (vídeos 4 e 5).

Conclui‐se assim que da cirurgia corretiva realizada em 1978 ficou CIA baixa residual com shunt sistémico‐pulmonar, diagnosticada em ETT, mas não confirmada por RM e que se revelou ser o mecanismo determinante de embolização sistémica paradoxal.

Embora não tivesse sido possível obter o relatório operatório nas notas clínicas do doente, identificou‐se o case report1 publicado pelo cirurgião em 1978, onde é descrita a malposição L‐anatómica dos grandes vasos, suportando o diagnóstico atual (Tabela 1).

Tabela 1.

Critérios imagiológicos para diagnosticar transposição dos grandes vasos congenitamente corrigida – dupla discordância: auriculoventricular (AV) e ventrículo‐arterial

Grandes vasos paralelos com aorta em posição anterior (Figura 2
Ventrículo morfologicamente direito (trabeculado), relacionado com válvula AV morfologicamente tricúspide em posição esquerda e em continuidade com válvula aórtica e aorta torácica (Figuras 2 e 3
Inserção da válvula AV morfologicamente tricúspide em posição esquerda num plano inferior ou no mesmo plano do que a válvula AV em posição direita (Figura 4
Ventrículo morfologicamente esquerdo (sem infundíbulo), relacionado com aurícula recetora de duas veias cava. Neste caso, observa‐se trajeto de eletrocateter identificado em ambas as cavidades (Figura 5

Realça‐se a importância da análise ecocardiográfica complementar ETT e ETE para o diagnóstico das cardiopatias congénitas, mais concretamente para a identificação de shunt residual, não observado pela RM. O reconhecimento deste shunt residual revelou‐se o principal determinante da mudança da estratégia terapêutica.

Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animais

Os autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.

Confidencialidade dos dados

Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes.

Direito à privacidade e consentimento escrito

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Appendix A

(0.74MB)
(2.46MB)
(2.54MB)
(2.11MB)
(1.71MB)

Bibliografia
[1]
M.M. Macedo, J.A. Lino, J. Roquette, et al.
Congenital cyanotic heart disease with “situs solitus”, dextroversion, juxtaposition of the atrial appendages and anatomical malposition of the great arteries. Report of a case with surgical correction.
Acta Med Port, 1 (1979), pp. 73-78
[2]
T.S. Hornung, L. Calder.
Congenitally corrected transposition of the great arteries.
Heart, 96 (2010), pp. 1154-1161
Copyright © 2014. Sociedade Portuguesa de Cardiologia
Download PDF
Idiomas
Revista Portuguesa de Cardiologia (English edition)
Article options
Tools
Supplemental materials
en pt

Are you a health professional able to prescribe or dispense drugs?

Você é um profissional de saúde habilitado a prescrever ou dispensar medicamentos

By checking that you are a health professional, you are stating that you are aware and accept that the Portuguese Journal of Cardiology (RPC) is the Data Controller that processes the personal information of users of its website, with its registered office at Campo Grande, n.º 28, 13.º, 1700-093 Lisbon, telephone 217 970 685 and 217 817 630, fax 217 931 095, and email revista@spc.pt. I declare for all purposes that the information provided herein is accurate and correct.