Perdemos no mês de julho uma colega e amiga, que soube afirmar‐se como Cardiologista Pediátrica de relevante prestígio nacional e internacional.
Foi, no já longínquo mês de outubro de 1985 que iniciámos simultaneamente a formação específica de especialidade, em distintas áreas, no Hospital de Santa Marta, que apesar da proximidade física, viviam realidades funcionais muito afastadas.
Ao longo dos anos a Professora Fátima Pinto conseguiu promover uma notável expansão qualitativa e quantitativa no domínio específico da exploração hemodinâmica e das técnicas de Intervenção Percutânea nas Cardiopatias Congénitas, ultrapassando com a determinação que a caracterizava, múltiplos obstáculos e limitações.
A partir de 2008 assumiu a Direção do Serviço, sucedendo com brilhantismo a grandes vultos da Medicina Nacional como Fernanda Sampaio ou Manuela Lima. Progressivamente materializou a sua orientação estratégica inovadora, fomentado uma aproximação e integração entre a Cardiologia Pediátrica e a Cardiologia, cujo conjunto de saberes acumulados são em muito complementares, potenciando os resultados clínicos e a integração dos cuidados que atravessam estritos critérios etários. Ao mesmo tempo manteve a fortíssima componente de formação pós‐graduada, de que resultou uma renovação geracional assinalável.
Esta orientação, bem como o evidente prestígio consolidado, permitiu que, no decorrer do processo da criação dos Centros de Referência em 2014/2015, a candidatura e seleção do Centro de Referência de Cardiopatias Congénitas do então Centro Hospitalar de Lisboa Central, fosse inquestionável.
A excelência do trabalho desenvolvido permitiu também uma fácil integração nas redes europeias de Centros de Referência, passando a integrar com papel de relevo a “European Network in Congenital Heart Disease”.
Mais tarde viria ser nomeada Diretora Clínica Adjunta do Centro Hospitalar, cargo que manteve na Unidade Local de Saúde de S. José.
A par da atividade assistencial, sempre focada no Hospital de Santa Marta, a Professora Fátima Pinto manteve uma relevante vertente académica e de investigação clínica, consubstanciada nas mais de 100 publicações científicas de que foi autora, bem como no seu doutoramento na “Nova Medical School” em 2017, materializando um inovador projeto de investigação sobre a Doença de Kawasaki e a disfunção endotelial.
Numa outra dimensão do seu percurso, contámos com a sua preciosa e determinante colaboração como Consultora Científica do Programa Nacional para as Doenças Cerebro‐ Cardiovasculares que dirigi até 2019.
Posteriormente integrou o Grupo de Trabalho, que coordenei, para revisão das Redes de Referenciação Hospitalar de Cardiologia, Cardiologia Pediátrica e Cirurgia Cardíaca por nomeação inicial da Srª Ministra da Saúde, Dr.ª Marta Temido, confirmado pelo então Diretor Executivo do SNS, Prof. Fernando Araújo. Assumiu um papel determinante na elaboração do estruturante documento de definição da rede de referenciação da sua especialidade,
Podemos pelo anteriormente exposto, afirmar claramente que o percurso assistencial, institucional e científico da Professora Fátima Pinto, transcendeu o seu prestígio pessoal, marcando de forma indelével as instituições em que colaborou, influenciando o seu passado e presente na perspetiva de um futuro promissor.
