Journal Information
Vol. 34. Issue 10.
Pages 639-641 (October 2015)
Share
Share
Download PDF
More article options
Visits
4278
Vol. 34. Issue 10.
Pages 639-641 (October 2015)
Artigo recomendado do mês
Open Access
«Estudo LEGACY: Efeitos a longo prazo do controlo de peso guiado por objetivos numa coorte com fibrilhação auricular»
Comment on ‘Long‐Term Effect of Goal‐Directed Weight Management in an Atrial Fibrillation Cohort: A Long‐Term Follow‐Up Study (LEGACY)’
Visits
4278
António Hipólito Reis
Membro do Corpo Redatorial da Revista Portuguesa de Cardiologia
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Full Text

Pathak RK, Middeldorp ME, Meredith M, Mehta AB, Mahajan R, Wong CX, Twomey D, Elliott AD, Kalman JM, Abhayaratna WP, Lau DH, Sanders P. J Am Coll Cardiol. 2015;65:2159‐69. doi: 10.1016/j.jacc.2015.03.002. Epub 2015 Mar 16.

Abstract

Background: Obesity and atrial fibrillation (AF) frequently coexist. Weight loss reduces the burden of AF, but whether this is sustained, has a dose effect, or is influenced by weight fluctuation is unknown.

Objectives: This study sought to evaluate the long‐term impact of weight loss and weight fluctuation on rhythm control in obese individuals with AF.

Methods: Of 1,415 consecutive patients with AF, 825 had a body mass index ≥27kg/m(2) and were offered weight management. After screening for exclusion criteria, 355 were included in this analysis. Weight loss was categorized as group 1 (≥10%), group 2 (3% to 9%), and group 3 (<3%). Weight trend and/or fluctuation was determined by yearly follow‐up. We determined the impact on the AF severity scale and 7‐day ambulatory monitoring.

Results: There were no differences in baseline characteristics or follow‐up among the groups. AF burden and symptom severity decreased more in group 1 compared with groups 2 and 3 (p <0.001 for all). Arrhythmia‐free survival with and without rhythm control strategies was greatest in group 1 compared with groups 2 and 3 (p <0.001 for both). In multivariate analyses, weight loss and weight fluctuation were independent predictors of outcomes (p <0.001 for both). Weight loss ≥10% resulted in a 6‐fold (95% confidence interval: 3.4 to 10.3; p <0.001) greater probability of arrhythmia‐free survival compared with the other 2 groups. Weight fluctuation >5% partially offset this benefit, with a 2‐fold (95% confidence interval: 1.0 to 4.3; p=0.02) increased risk of arrhythmia recurrence.

Conclusions: Long‐term sustained weight loss is associated with significant reduction of AF burden and maintenance of sinus rhythm. (Long‐Term Effect of Goal directed weight management on Atrial Fibrillation Cohort: A 5 Year follow‐up study [LEGACY Study]; ACTRN12614001123639).

Comentário

A fibrilhação auricular (FA) e a obesidade são consideradas, na atualidade, epidemias em crescendo à escala global1–4.

A importância da FA deve‐se à elevada prevalência e constitui a arritmia mais frequente na prática clínica. Afeta 2,5% da população acima dos 40 anos5 e aumenta progressivamente com a idade (em média cerca de 5% ao ano6).

Reconhece‐se, também, no seu processo, o impacto hemodinâmico resultante da perda do contributo auricular, da manifestação de diástoles irregulares e incompletas e, ainda, da amplificação da resposta ventricular, com aumento da frequência, cuja persistência pode resultar em remodelagem ventricular, levando, então, à dilatação e progressiva disfunção miocárdica (taquicardiomiopatia)7,8. As implicações hemodinâmicas podem condicionar, também, pelas alterações a nível cerebral, o agravamento ou mesmo aparecimento de doença cerebrovascular (estabelecida finalmente como uma demência de origem vascular). Note‐se que a variação da frequência, quer por aumento quer por diminuição, pode provocar e explicar alterações no processo que conduz a este tipo de demência9.

Pelo seu potencial cárdio‐embólico, a presença de FA associa‐se a um risco acrescido de acidente vascular transitório/acidente vascular cerebral, obrigando a medidas de prevenção que assentam na hipocoagulação oral, referidas, atualmente, a modelos de decisão bem implementados, através da utilização de scores de risco (CHADSVasc2 versus HAS‐BLED)10.

Tratando‐se de uma patologia continuadamente evolutiva, a história natural da doença começa por episódios curtos e isolados (frequentemente assintomáticos), passa por surtos de FA paroxística, depois por FA persistente e FA persistente de longa duração e, por fim, estabelece‐se como FA permanente, situação em que se aceita a não existência de condições para a sua reversão ao ritmo sinusal11.

Neste contexto, pensa‐se, hoje, que deve ser feito um esforço de intervenção terapêutica às primeiras manifestações da doença, designadamente para prevenir a recorrência.

Deste modo, face às limitações da terapêutica farmacológica no controlo da doença12, o tratamento da FA por ablação (isolamento elétrico das veias pulmonares) deve ser equacionado numa fase precoce. Este procedimento, atualmente bem estabelecido como sendo eficaz e com uma relação risco/benefício geralmente favorável, está, essencialmente, indicado em jovens muito sintomáticos, sem ou com mínima cardiopatia estrutural, refratários à terapêutica médica com pelo menos um anti‐arrítmico. Pode ser mesmo considerada como terapêutica de 1.ª linha (antes da instituição de um fármaco anti‐arrítmico) nas situações de FA paroxística, recorrente e sintomática, se o coração se encontrar estruturalmente normal–FA isolada (indicação classe IIa) com a concordância do doente10.

O sucesso desta terapêutica, para além da experiência do respetivo Centro, está diretamente ligado a outros aspetos, tais como as comorbilidades coexistentes. Assim, condições como a obesidade13 e as doenças cardiometabólicas a esta associada, nomeadamente a HTA não controlada14, a diabetes mellitus15 e a apneia de sono16, podem pôr em causa o benefício do investimento.

Os autores do artigo proposto (estudo LEGACY) avaliaram o impacto que a redução do peso pode ter na diminuição da recorrência arrítmica num grupo de doentes com história de FA paroxística ou persistente, sintomática. Concluíram, então, que a redução sustentada do peso, a longo prazo, pode contribuir para a redução quer da carga arrítmica quer da gravidade e do número de episódios de FA, favorecendo, assim, condições para a manutenção do ritmo sinusal. Este efeito é «dose‐dependente», ou seja, doentes com obesidade e FA quando perdem pelo menos 10% do seu peso têm cerca de seis vezes aumentada a probabilidade de permanecerem livres de episódios de FA, quando comparados com os doentes que não reduziram o excesso ponderal.

Existe a evidência de a obesidade criar, por si só, condições promotoras de doença arrítmica, ao associar‐se à disfunção diastólica17, a um estado pró‐inflamatório sistémico18, a alterações do tónus autonómico19 e à dilatação auricular20. Um estudo recente demonstra que a obesidade se acompanha de um efeito direto na modificação do substrato auricular21.

A perda de peso em doentes obesos pode condicionar alterações favoráveis nos fatores de risco cardiovascular, tais como a HTA, a diabetes mellitus e a síndrome da apneia obstrutiva de sono, juntamente com melhorias na estrutura e na função do coração. Estas evidências vêm reforçar a necessidade da otimização destes fatores de risco em doentes com FA, de forma a reduzir a probabilidade do aparecimento e da progressão da doença arrítmica e a aumentar o sucesso da terapêutica por ablação.

Conclui‐se que os resultados deste estudo (levado a cabo na Austrália com seguimento durante cinco anos) evidenciam a associação da perda de peso com a redução da carga de FA e permitem recomendar a realização dum ensaio clínico randomizado que possa integrar o contributo do progressivo conhecimento da bioquímica das situações e mostrar o impacto duma estratégia sistemática de diminuição do peso na evolução de doentes com FA.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Bibliografia
[1]
M.D. Ezekowitz.
Atrial fibrillation: The epidemic of the new millennium.
Ann Intern Med., 131 (1999), pp. 537-538
[2]
S.S. Chugh, R. Havmoeller, K. Narayanan, et al.
Worldwide epidemiology of atrial fibrillation: a global burden of disease 2010 study.
Circulation., 129 (2014), pp. 837-847
[3]
J. Ball, M.J. Carrington, J.J. McMurray, et al.
Atrial fibrillation: profile and burden of an evolving epidemic in the 21st century.
Int J Cardiol., 167 (2013), pp. 1807-1824
[4]
World World Health Organization.
Report of a WHO Consultation.
World Health Organization, (2000),
Obesity: preventing and managing the global epidemic. (WHO technicalreport series 894)
[5]
Bonhorst, D, Mendes M, Adragão P et al. Prevalência de fibrilhação auricular na população portuguesa com 40 ou mais anos. Estudo FAMA. Rev Port Cardiol 29 (03): 331‐350.
[6]
J.P. Piccini, B.G. Hammill, Sinner, et al.
Incidence of prevalence of atrial fibrillation and associated mortality among Medicare beneficiaries, 1993‐2007.
Circ Cardiovasc Qual Outcomes., 5 (2012), pp. 85-93
[7]
E. Umana, C. Solares, M. Alpert.
Tachycardia‐Induced cardiomyopathy.
Am J Med., 114 (2003), pp. 51-55
[8]
J.S. Shinbane, M.A. Wood, D.N. Jensen, et al.
Tachycardia‐induced cardiomyopathy: a review of animal models and clinical studies.
J Am CollCardiol, 29 (1997), pp. 709
[9]
F. Cacciatore, G. Testa, A. Langellotto, et al.
Role of ventricular rate response on dementia in cognitively impaired elderly subjects with atrial fibrillation: A 10‐year study.
Dement Geriatr Cogn Disord., 34 (2012), pp. 143-148
[10]
C.T. January, L.S. Wann, J.S. Alpert, et al.
AHA/ACC/HRS Guideline for the Management of Patients With Atrial Fibrillation: Executive Summary.
[11]
Camm A, Kirchhof P, Lip G et al. Guidelines for the management of atrial fibrillation The Task Force for the Management of Atrial Fibrillation of the European Society of Cardiology (ESC). European Heart Journal doi:10.1093/eurheartj/ehq278
[12]
P. Zimetbaum, Atrial Fibrillation..
Antiarrhythmic Drug Therapy for Atrial Fibrillation.
Circulation, 125 (2012), pp. 381-389
[13]
Frost L1, L.J. Hune, P. Vestergaard.
Overweight and obesity as risk factors for atrial fibrillation or flutter: the Danish Diet, Cancer, and Health Study.
Am J Med., 118 (2005), pp. 489-495
[14]
A. Manolisa, E. AgabitiRoseib, A. Cocac, et al.
Hypertension and atrial fibrillation: diagnostic approach, prevention and treatment. Position paper of the Working Group ‘Hypertension Arrhythmias and Thrombosis’of the European Society of Hypertension.
J Hypertens., 30 (2012), pp. 239-252
[15]
J.D. Fontes, A. Lyass, J.M. Massaro, et al.
Insulin resistance and atrial fibrillation (from the Framingham Heart Study).
Am J Cardiol., 109 (2012), pp. 87-90
[16]
A. Gami, D. Hodge, R. Herges, et al.
Obstructive sleep apnea, obesity, and the risk of incident atrial fibrillation.
J Am Coll Cardiol, 49 (2007), pp. 565-571
[17]
C. Russo, Z. Jin, S. Homma, et al.
Effect of obesity and overweight on left ventricular diastolic function: a community‐based study in an elderly cohort.
J Am CollCardiol., 57 (2011), pp. 1368-1374
[18]
M. Visser, L.M. Bouter, G.M. McQuillan, et al.
Elevated C‐reactive protein levels in overweight and obese adults.
JAMA., 282 (1999), pp. 2131-2135
[19]
K. Karason, H. Mølgaard, J. Wikstrand, et al.
Heart rate variability in obesity and the effect of weight loss.
Am J Cardiol., 83 (1999), pp. 1242-1247
[20]
J. Stritzke, M.R. Markus, S. Duderstadt, et al.
MONICA/KORA Investigators. The aging process of the heart: obesity is the main risk factor for left atrial enlargement during aging the MONICA/KORA (monitoring of trends and determinations in cardiovascular disease/cooperative research in the region of Augsburg) study.
J Am CollCardiol., 54 (2009), pp. 1982-1989
[21]
S. Nattel, B. Burstein, D. Dobrev.
Atrial remodeling and atrial fibrillation: mechanisms and implications.
Circ Arrhythm Electrophysiol., 1 (2008), pp. 62-73
Download PDF
Idiomas
Revista Portuguesa de Cardiologia (English edition)
Article options
Tools
en pt

Are you a health professional able to prescribe or dispense drugs?

Você é um profissional de saúde habilitado a prescrever ou dispensar medicamentos

By checking that you are a health professional, you are stating that you are aware and accept that the Portuguese Journal of Cardiology (RPC) is the Data Controller that processes the personal information of users of its website, with its registered office at Campo Grande, n.º 28, 13.º, 1700-093 Lisbon, telephone 217 970 685 and 217 817 630, fax 217 931 095, and email revista@spc.pt. I declare for all purposes that the information provided herein is accurate and correct.