Sexo masculino, submetido a transplante cardíaco heterotópico aos 16 anos por cardiomiopatia dilatada e insuficiência cardíaca (IC) terminal.
Vinte anos após o transplante desenvolveu IC sintomática refratária, pelo que foi novamente intervencionado com encerramento percutâneo da válvula aórtica do coração nativo (CN) com dispositivo Amplatzer (por insuficiência aórtica grave, que condicionava diminuição do débito cardíaco sistémico) e conexão cirúrgica do ventrículo direito (VD) do coração dador (CD) à artéria pulmonar nativa, através de um conduto (pela insuficiência tricúspide (IT) grave do CN que causava diminuição do débito pulmonar). A AngioTC torácica pós‐procedimento mostrou trombo no interior do conduto. A complexa anatomia cardíaca do doente encontra‐se representada na figura 1.
Após três meses de hipocoagulação e antiagregação, a reavaliação ecocardiográfica mostrou CN gravemente dilatado com disfunção biventricular (Figure 2A) e CD com sinais de sobrecarga de pressão do VD (IT grave; gradiente VD/aurícula direita 54mmHg; função sistólica do VD comprometida com fractional area change (FAC) de 20% ‐ Fig. 2B). Verificou‐se ainda aparente oclusão do conduto, melhor visualizada em 3D (Fig. 3 – Seta). A AngioTC confirmou persistência de trombo suboclusivo no conduto (Fig. 4A *); a reconstrução tridimensional permitiu uma melhor apreciação da relação entre os dois corações (Fig. 4B). Após várias tentativas de repermeabilização do conduto sem sucesso, o doente encontra‐se em classe II NYHA sob terapêutica médica otimizada.
Este caso raro de um doente submetido a transplante cardíaco heterotópico ilustra o papel crucial da imagem multimodal no seguimento e abordagem de situações de anatomia cardíaca complexa.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Os autores agradecem ao Dr. António Madureira, do Serviço de Radiologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, pela sua colaboração no âmbito da TC cardíaca.