Apresentamos uma doente de 71 anos com antecedentes de cardiopatia isquémica em fase dilatada NYHA III (portadora de CRT-D) e fibrilhação auricular permanente sob anticoagulação oral. Admitida por dispneia, cansaço e angor para pequenos esforços, dor e edema do membro inferior direito e diminuição da força muscular dos membros inferiores impossibilitando a marcha, desde há duas semanas.
Apresentava-se colaborante, TA 100/40mmHg, FC 70 bpm, pulsos periféricos mantidos, com fervores subcrepitantes nas bases pulmonares, paraparésia flácida e sinais de trombose venosa profunda na perna direita.
Elevação dos D-dímeros. Radiografia de tórax com cardiomegália e sobrecarga hídrica.
Perante a suspeita de tromboembolismo pulmonar (TEP), realizou ecocardiograma transtorácico (ETT), que mostrou ventrículo esquerdo dilatado e compromisso grave da função sistólica, insuficiência aórtica moderada, raiz da aorta dilatada com imagem de duplo lúmen e trombo ao nível da artéria pulmonar direita (Figura 1). O angioTAC torácico confirmou os diagnósticos de TEP e dissecção aórtica tipo A com envolvimento da aorta torácica descendente (Figura 2).
Ecocardiograma transtorácico que mostrou (A) regurgitação aórtica moderada, raiz da aorta dilatada e flap da íntima com sinal de duplo lúmen (seta curta); (B) visualizou-se também trombo na artéria pulmonar direita (seta longa).
AA: aorta ascendente; AE: aurícula esquerda; APD: artéria pulmonar direita; VE: ventrículo esquerdo.
Tomografia computorizada de tórax com injeção de contraste endovenoso: (A) corte transversal com trombo bem organizado e aderente à parede da artéria pulmonar direita (seta), observa-se preenchimento do verdadeiro lúmen de dissecção aórtica (seta larga); (B) corte sagital mostrando extensão da dissecção ao longo da aorta torácica descendente (setas).
Pelo risco cirúrgico muito elevado foi adotada uma estratégia conservadora. Evoluiu desfavoravelmente, com tetraparésia e insuficiência renal, tendo alta, a pedido, para um centro de cuidados continuados.
Pretendemos salientar o papel do ETT na abordagem do doente em Serviço de Urgência, sendo um exame complementar de diagnóstico de fácil acesso. Este caso permite também chamar a atenção para a possibilidade da coexistência de patologias graves, pelo que devemos, sempre que possível, realizar um exame não dirigido.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram ter seguido os protocolos de seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes e que todos os pacientes incluídos no estudo receberam informações suficientes e deram o seu consentimento informado por escrito para participar nesse estudo.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.